Segundo jornal israelense, vítimas eram algemadas, vestiam uniformes militares e estavam com medo.
Uma investigação conduzida pelo jornal israelense Haaretz, publicada nesta terça-feira (13/08), revelou que o exército de Israel usou civis palestinos como escudos humanos para inspecionar túneis na Faixa de Gaza, e que os oficiais de alto escalão tinham conhecimento disso.
Após análise de imagens, o veículo relatou que, num primeiro momento, é difícil reconhecer que se tratam de vítimas palestinas. No entanto, é possível notar que elas foram propositalmente vestidas com uniformes militares e sempre aparentam estar acompanhadas de soldados israelenses de várias patentes.
“Mas se você olhar mais de perto, verá que a maioria deles está usando tênis, não botas do exército. E suas mãos estão algemadas atrás das costas e seus rostos estão cheios de medo”, apontou o Hareetz, acrescentando que os civis, em sua maioria na faixa dos 20 anos, eram obrigados a entrar nos túneis onde havia maior suspeita de “armadilhas” plantadas pelo Hamas.
Os civis usados como escudos humanos eram chamados de “shawish”, uma palavra “obscura” árabe, de origem turca, que significa “sargento”.
Segundo o jornal, um oficial de alto escalão teria dito aos soldados que “nossas vidas são mais importantes do que as vidas deles” e que sustentava a ideia de que era “melhor que os soldados israelenses permanecessem vivos e que os shawish fossem explodidos”.
Militares que testemunharam essas situações em Gaza relataram ao Hareetz que, inclusive, menores e idosos também eram forçados às operações. Alguns chegavam a ser submetidos à condição de shawish por até uma semana, embora as normas de combate de Israel rejeitem o emprego de civis em ações que envolvam risco de vida.
“Ouvimos respirações muito profundas, parecia que ele estava com um pouco de medo”, contou um soldado à reportagem do Haaretz, revelando ter descoberto apenas momentos depois que se tratava de um civil palestino. “Eles simplesmente o enviaram para dentro e ele mapeou tudo para os comandantes, com o comandante da brigada observando do lado de fora”.
Desde 7 de outubro de 2023, quando Tel Aviv passou a intensificar suas hostilidades em Gaza, as autoridades israelenses têm acusado o Hamas de usar civis como escudos humanos em hospitais e escolas, para assim justificar suas operações de massacre no enclave, que atualmente resultam em quase 40 mil mortos. No entanto, quem é alvo da mesma denúncia agora é o governo de Israel.
As acusações sobre fazer dos civis palestinos escudos humanos em meio ao conflito foram realizadas primeiramente pela Al Jazeera, que foi proibida de veiculação em território israelense.
Em junho, a emissora catari denunciou que as IDF amarraram um homem ferido no capô de um veículo militar em Jenin, na Cisjordânia ocupada, para supostamente usá-lo como escudo humano. A vítima foi identificada como Mujahed Azmi.
Na ocasião, Abdulraouf Mustafa, motorista da ambulância do Crescente Vermelho que deveria levar o homem ao hospital, detalhou que os soldados “se recusaram” a entregar o paciente, mesmo gravemente ferido.
O incidente tomou proporções e causou indignação nas redes sociais. Internautas acusaram Israel de cometer crimes de guerra, enquanto uma relatora das Nações Unidas (ONU) também sugeriu que as IDF usaram o ferido como um escudo humano.
*Opera Mundi