Brasil lança programa de repatriação para atrair pesquisadores do exterior

Brasil lança programa de repatriação para atrair pesquisadores do exterior

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Pesquisadores brasileiros residentes no exterior terão a oportunidade de retornar ao país ou estreitar laços com universidades e empresas através do Programa de Repatriação de Talentos – Conhecimento Brasil, lançado no dia 29 de julho. O programa, fruto de debates entre a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, pesquisadores e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), oferece bolsas e um pacote de benefícios robusto, com valores superiores aos das bolsas concedidas atualmente no Brasil. Confira a íntegra do programa aqui.

Com dois eixos de atuação, o programa permitirá tanto a repatriação de profissionais quanto a formação de redes internacionais de cooperação científica, favorecendo a troca de conhecimentos e a internacionalização da ciência brasileira. As inscrições para as duas chamadas do programa estão abertas até 13 de setembro.

Programas oferecidos

O edital de Atração e Fixação de Talentos oferece bolsas de R$ 10 mil para mestres, que atuarão em empresas, e de R$ 13 mil para doutores, que poderão atuar em universidades, institutos e empresas. Além disso, serão disponibilizados recursos para compra de equipamentos, participação em eventos internacionais e outros auxílios financeiros. “A expectativa é contratar até 1.000 projetos com vigência máxima de 60 meses, sendo 48 meses iniciais com possibilidade de prorrogação por até 12 meses”, diz o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

Já a chamada de Apoio a Projetos em Rede com Pesquisadores Brasileiros no Exterior pretende financiar até 380 projetos, com orçamento total de R$ 230 milhões, que visam estimular o intercâmbio de conhecimento entre pesquisadores no Brasil e aqueles radicados no exterior. Esses projetos terão vigência inicial de 24 meses.

Cada projeto poderá receber até R$ 400 mil para custeio e manutenção de pesquisa, com um adicional de até R$ 120 mil para viagens e visitas técnicas ao exterior. Além disso, “cada pesquisador terá direito ainda a de auxílio-instalação, auxílio-deslocamento, recurso para contratação de seguro ou plano de saúde para o bolsista e seu núcleo familiar e auxílio-previdência para que o bolsista recolha ao INSS o equivalente à sua contribuição como autônomo, para fins de contagem de tempo de serviço para aposentadoria futura.”

Pesquisadores formados

O Brasil forma cerca de 20 mil novos doutores por ano, mas ainda está atrás de muitos países da OCDE em termos de doutores por habitante. Embora não haja números exatos, estima-se que cerca de 20 mil pesquisadores brasileiros estejam no exterior, alguns com carreiras já estabelecidas e outros ainda em início de trajetória.

A pesquisadora Ana Maria Carneiro, da Unicamp, conduziu um estudo em 2023 com 1.200 pesquisadores residentes em 42 países, que mostra que uma parcela significativa dos pesquisadores brasileiros no exterior tem interesse em retornar ao país, desde que haja boas oportunidades de emprego. No entanto, mais de 70% dos entrevistados indicaram não ter previsão de retorno, o que sugere que o programa poderá ser mais atraente para pesquisadores jovens com vínculos precários no exterior.

Para Carneiro, o programa poderá ser interessante para pesquisadores mais jovens com vínculos temporários no exterior, oferecendo um “enxoval” que permita um bom início de carreira no Brasil. Contudo, para aqueles com contratos estáveis e famílias estabelecidas no exterior, o programa pode não ser suficiente para motivar o retorno.

Críticas e oportunidades

Entretanto, o programa não está isento de críticas. Parte da comunidade científica brasileira questiona a prioridade dada ao retorno de pesquisadores no exterior, apontando que os recursos poderiam ser melhor utilizados para reter e fixar os doutores que já estão no país, muitos dos quais enfrentam dificuldades com bolsas defasadas e falta de infraestrutura adequada para pesquisa.

Francilene Garcia, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), sugere que a prioridade deve ser a criação de condições que mantenham os doutores recém-formados no Brasil, evitando que precisem buscar oportunidades no exterior. Além disso, há uma certa insatisfação entre os pesquisadores que permaneceram no Brasil, que veem as bolsas oferecidas aos repatriados como superiores às que recebem.

Apesar das críticas, há pesquisadores que enxergam no programa uma oportunidade de voltar ao país e contribuir para a ciência nacional. Clarissa Rocha, bióloga molecular geneticista, é uma das interessadas em participar do programa. Ela deixou o Brasil há dez anos e atualmente trabalha nos Estados Unidos, mas agora vê no Conhecimento Brasil uma chance de recomeçar sua carreira científica em sua terra natal.

“Há muitos pesquisadores como eu que querem voltar, mas não podemos simplesmente largar nossas vidas profissionais sem ter pelo menos um programa de início, que vá nos ajudar a nos inserir de volta no mercado de trabalho”, afirma. Ela também menciona um aspecto pessoal: “estou há muito tempo longe da minha família, chega uma hora que você começa a balancear o que vale mais a pena.”

O sucesso do programa dependerá não apenas de sua implementação, mas também da capacidade do país em absorver esses cientistas de volta ao mercado de trabalho após o término das bolsas. Sem um plano de longo prazo, muitos podem acabar retornando ao exterior, perpetuando o ciclo de fuga de cérebros que o governo busca combater.

*Deutsche Welle e gov.br

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