Tecnologia e inovação para a descarbonização da indústria nacional

Tecnologia e inovação para a descarbonização da indústria nacional

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Com o lançamento do plano de desenvolvimento, batizado de Nova Indústria Brasil pelo governo federal, a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação debateu as perspectivas do processo de descarbonização da indústria.

O painel foi transmitido ao vivo, direto do Centro de Convenções Brasil 21, em Brasília e contou com a participação de experientes debatedores em desenvolvimento econômico sustentável com a finalidade de encontrar saídas para a descarbonização da indústria, ao mesmo tempo que formula um plano nacional de Ciência e Tecnologia para a próxima década.

“Qual a melhor rota tecnológica, neste espaço da ciência e tecnologia, e quais são as rotas que conseguimos construir para o desenvolvimento do Brasil de forma soberana, é o que espero que os nossos debatedores trazem aqui”, enfatizou a coordenadora da mesa Política Industrial Para a Descarbonização, Verena Hitner, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) na abertura dos trabalhos. “O debate aqui é qual a ciência pertinente ao processo de desenvolvimento”, disse.

Sabendo que o grande responsável pelas emissões de gases no Brasil é o desmatamento, os palestrantes apresentaram diferentes formulações para que o Brasil aumente mais a competitividade da indústria no cenário internacional, contribuindo para redução das emissões de cada setor, aprovando leis e focando os investimentos em tecnologia e inovação para contribuir com o mercado renovável.

Primeiro a falar, o secretário de Economia Verde do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC), Rodrigo Rollenberg, ressaltou a importância da bioeconomia, da descarbonização, da transição e da segurança energética como principais missões do programa Nova Indústria Brasil.

Ex-governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollenberg foi um dos palestrantes da Mesa. Foto: Rodrigo Cabral (ASCOM/MCTI)

O secretário defendeu a importância de criar um biocombustível capaz de transformar insumos fósseis em insumos retirados a partir da nossa biodiversidade. Disse se sentir otimista em relação ao Brasil diante de países que precisam desacelerar os seus processos de carbonização em função das mudanças climáticas, mas que não têm matéria prima para isso.

Para ele, o Brasil tem tudo para transformar a sua fonte de energia renovável, aprimorando a biodiversidade do planeta. “O nosso país tem a maior biodiversidade do planeta, possui matéria prima em abundância, água, sol e a capacidade de produção cientifica e de produção tecnológica”, considerou, mas para ele, o maior desafio da descarbonização do país é o arranjo político.

Neste sentido, Rollenberg recomendou que a conferência aprove em seu documento final uma exigência ao Congresso Nacional que priorize a agenda verde, para acelerar a aprovação da lei do mercado de carbono, a regulamentação do combustível do futuro, aumento da mistura do etanol na gasolina, produção de bio insumos, entre outros.

“O primeiro passo para o Brasil deslanchar, voar, como bem disse o presidente Lula hoje, que os investidores possam conhecer as regras do jogo e, portanto, aprovar o mercado de carbono, combustíveis do futuro, boa lei de energia eólica offshores, de bio-insumos, sem jabutis, é extremamente importante para garantir essa competitividade do Brasil e focar os recursos, identificar quais são as prioridades para que os recursos possam mirar as rotas tecnológicas”, afirmou Rollenberg.

Foto: Rodrigo Cabral (ASCOM/MCTI)

A indústria gera emprego, tecnologia e desenvolvimento

Segundo a coordenadora Rede Clima da Indústria da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Juliana Falcão, mesmo que a indústria nacional tenha um percentual muito baixo dentro das emissões de gases no país, essa é uma das principais preocupações porque os eventos climáticos atingem em cheio o complexo industrial.

Juliana apresentou as tendências globais para a agenda de mudança do clima e o impacto das mudanças climáticas na indústria. Disse que é preciso neutralizar esses impactos e que mundialmente, os governos estão apresentando metas e assumindo compromissos mais desafiadores, segundo o Vermelho.

Citou a tragédia ocasionados pela chuva no Rio Grande do Sul e como afetou a indústria e a economia do estado. “Os eventos climáticos estão aí, está todo mundo sentindo, por todo o planeta”, afirmou.

Neste sentido, a Coordenadora da CNI ressaltou que essa é uma preocupação de muito tempo da entidade e que também há a necessidade de buscar alternativas, mas para isso, segundo ela, “deve haver o envolvimento de todos os setores, juntos, trabalhando pela indústria nacional”.

Assim como o secretário Rollenberg, ela criticou o atraso do Brasil em aprovar leis para estabelecer tetos para emissões de gazes e mercado para a venda de crédito de carbono ou incentivos fiscais para empresas. “Há anos o Brasil discute mercado de carbono, mas não há uma lei vigente sobre o assunto”. Ao falar da necessidade de transição energética, Juliana ressaltou que a estratégia da indústria leva em conta o baixo carbono, em quatro pilares: Transição energética, mercado de carbono, economia circular e conservação florestal.

A representante da CNI informou que, segundo cálculos da confederação, será necessário desembolsar cerca de 40 bilhões de reais, aproximadamente, para a descarbonização do país.

Apostar em energias renováveis

O professor Cláudio Mota, do Instituto de Química da UFRJ, destacou que “com o passar dos anos, a grande demanda de energia que a civilização utiliza vai começando a afetar o meio ambiente. De certa forma, a revolução industrial contribuiu naquele momento para preservar o meio já que utilizou, como base, os combustíveis fósseis”. Ele também explicou sobre como funciona os ciclos energéticos do carbono.

“Hoje precisamos pensar em como desenvolver sem afetar a nossa vida”. Para ele, o Brasil precisa avançar usando energias renováveis, produzindo o mesmo que produz do petróleo. Mas defendeu o uso de biocombustíveis que partem do dióxido de carbono (ou gás carbônico, como é conhecido o CO2).

O professor lembrou que na agricultura, o Brasil importa 85% dos adubos e produtos químicos, é um grande importador de fertilizantes, mas todos esses compostos fazem parte da biodiversidade brasileira e que é necessário produzirmos insumos para a indústria emergência, substituindo a dependência que o Brasil tem de insumos químicos estrangeiros.

Segundo o estudioso, a “folha artificial” pode vencer o problema do clima no futuro e falou de algumas empresas que já tratam isso como realidade, como a captura do ar atmosférico que ele observou em visita à empresa que trabalha com essa produção na Suíça, em 2019.

Ele recomendou a utilização do gás carbônico para produzir fios, químicos, combustíveis entre outros, a partir da captação de CO2 e o transformando em energia. Citou também o desafio de produção hidrogênio renovável no Brasil.

Otimista, a Diretora Executiva do Instituto de Transformação Energética, Rosana Santos, falou que descarbonizar a indústria é um sopro de esperança para mudar o rumo da economia brasileira que ainda exporta produtos de baixíssimo valor agregado. Para ela, o Brasil tem soluções diversas que não são comuns ao resto do mundo, disse, como no caso das jaboticabas.

Mesa debate a descarbonização da indústria. Foto: Rodrigo Cabral (ASCOM/MCTI)

Segundo a diretora, o país tem grande potencialidade em produzir matéria extremamente limpa. “É preciso defender rotas alternativas, usar os nossos poderes para que sejamos reconhecidos com o que a gente tem e faz de melhor”.

Indicou o caso da exportação do silício brasileiro, onde o país tem tecnologia para se fortalecer e estruturar como referência na produção do elemento. O Brasil é o maior detentor do produto com grau de pureza que seria produzido com pouca energia, mas que não tem financiamento, considerou Rosana.

Conquistar o mercado verde

Ao final de sua fala, defendeu que a sociedade, a indústria, os institutos e as universidades devem caminhar para uma mão de obra superqualificada e com isso, aumentar o número de empregos verdes. “Aproveitando esse momento da urgência climática que hoje é muito mais aceita do que há três ou quatro anos atrás para o Brasil abocanhar um pedação do mercado internacional que está começando esse trabalho”, ponderou.

Precisamos financiar nossos jovens, inverter essa lógica de exportação, a gente tem tudo que precisa para termos empregos verdes para a nossa juventude, completou ela.

Confira a íntegra:

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