Projeto para consolidar Extrema Direita no Mundo também é impulsionado por setores confusos da Esquerda

Projeto para consolidar Extrema Direita no Mundo também é impulsionado por setores confusos da Esquerda

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Um dos fenômenos mais curiosos em nível internacional desde ao menos a Crise de 2008 é a ascensão perigosa da Extrema Direita. Esse fenômeno não pode ser visto como um “raio no céu azul”, não se trata de um movimento orgânico ou espontâneo. Esta manifestação quase sempre é dirigida, com uma grande variedade de expectativas que possam, ao final, afastar o risco de um súbito colapso do sistema de poder bancado pelos detentores do Capital. Foi assim no Pré-Segunda Guerra Mundial (hoje a Historiografia reconhece amplamente o jogo de cartas marcadas para que Hitler subisse ao poder) e é assim na atualidade: “A História se repete primeiro com tragédia e depois como farsa”, já diria Karl Marx. O retorno das concepções ideológicas e políticas da Extrema Direita sempre resultou, em grande medida, na correlação de forças estruturais, um projeto vertical onde a Burguesia acuada e sem os recursos necessários para apaziguar, neutralizar ou ludibriar a sociedade acerca do verdadeiro conflito existente se cerca de mecanismos que facilitam a popularização do discurso do ódio e, consequentemente, a hipertrofia do poder do Estado nas mãos de projetos ou governos totalitários sob justificativas de salvaguardar a ordem de “inimigos externos” à espreita: judeus, comunistas imaginários, estrangeiros, homossexuais, chineses, russos, “marcianos”, “jupiterianos”, “venusianos” e toda a sorte de elementos distintos ou subversivos.

O que pouco se discute, no entanto, é o papel que a própria esquerda Lato sensu desempenha nesta lógica. A miséria intelectual a qual a esquerda hoje se encontra no Mundo é tamanha que poucos contextualizam e situam o despertar deste fenômeno como um espólio da crise do Socialismo real em finais dos anos de 1980, a ascensão do Neoliberalismo e a filosofia pós-moderna dentro do ativismo político internacional, deslocando-a de um movimento classista (classe no sentido estrutural da palavra) para o ativismo de ideias (cada vez mais mirabolantes, diga-se). Estas pautas quase sempre imaginárias ou descoladas da realidade material da humanidade tomaram o vocabulário político em diversas partes do Mundo. Aqui devemos entender o papel danoso deixado pela política identitária (uma corrente da esquerda internacional) que acredita que a essência da luta humana é a da defesa das políticas afirmativas no que se refere à ideias, gostos subjetivos, linguagens, gestos e posturas dentro do sistema, em busca de representatividades subjetivas que, em nada, resultam em ruptura com a Ordem. É justamente essa visão que promove uma das maiores abominações na política internacional quando a esquerda celebra a candidata dos Democratas à presidência dos EUA Kamala Harris, pelo único e exclusivo fato desta ser uma mulher negra. Todas as atrocidades políticas praticadas pelos Democratas com amplo apoio de Harris são subitamente eclipsadas diante de uma interpretação cosmética do Mundo. Como fomos capazes de rebaixar tanto a política dessa forma? A explicação está na própria Burguesia, que dispõe de todos os recursos possíveis para financiar um ethos capaz de sensibilizar os acadêmicos e outros setores da sociedade que dispõem de capacidade de difusão de ideias e opiniões. O market share destas novas tendências em rede dialogam com seus pares, igualmente crentes e cada vez mais sectários defensores religiosos da política de identidade. Seria o identitarismo a salvação da humanidade?  Essa visão torta, além de em nenhum momento ameaçar os detentores do poder global ainda é apropriada por este para impulsionar ainda mais a sensação de ameaça generalizada que “excêntricos esquerdistas” desempenhariam no Mundo em tabela com os conservadores, insuflando-os cada vez mais. Por exemplo, já é comum no Brasil que grande parte da população contrária à esquerda a associa a coisas ligadas à sexualidade e não uma força contestadora da ordem econômica local e internacional. Como é possível esta tragédia? A engenharia de todo essa manobra tem suas raízes da guerra de quinta geração. Por que motivo a Burguesia global tem dado tanto apoio ao discurso da representatividade e de diversidade? Estariam os donos do poder arrependidos da História de opressão que a própria ordem capitalista global provocou nos últimos séculos? Se sim, então podemos declarar a felicidade humana plena para o mês que vem: todo o Capital mundo afora se movimenta dia e noite, 24 horas do dia para dar voz à diversidade global. A voz é dada, mas não os meios de produção, curioso, não?

Um exemplo do jogo controlado pela Burguesia foi a abertura das Olimpíadas de 2024 em Paris. Foi a oportunidade perfeita para gerar o maior “fusuê” nas redes quando um grupo de artistas drag queens posaram no evento como grandes atrações que parodiaram a famosa pintura de Leonardo Da Vinci “Santa Ceia”. Foi a deixa necessária para que não só a França inteira se manifestasse em repúdio ao ocorrido como também em escala global. A trama deu tão certo para o núcleo de poder europeu que, provavelmente, ninguém mais discute a força que a esquerda classista teve na França para barrar a Extrema-Direita nas últimas eleições legislativas. A Extrema Direita, esquecida desde então volta a ser o centro das atenções, agora vista como “correta” em suas defesas políticas pelos mais fracos de espírito. Não há uma luta equilibrada e equidistante para a classe trabalhadora francesa e global. Há sim muito investimento em manobras políticas de grande volume por parte da Burguesia europeia para dar ainda mais vazão à Extrema Direita justamente num momento em que a Burguesia local se vê ameaçada pela decadência do Imperialismo da qual ela própria, a Burguesia europeia, é parte.

A esquerda que acredita que a performance artística nas Olimpíadas seria algo “fantástico” é vítima e ao mesmo tempo algoz de si mesma e fortalece o campo opositor, já que a Extrema Direita nada de braçada nestas questões. Nove entre dez pessoas no Mundo acham a performance propositalmente cafona (independente de orientação política) e quem embarca nesse tipo de discurso por estratégia política erra feio ao não ter a menor formação política possível na era da guerra de quinta geração e nem formação política clássica, no sentido clássico de “Direita x Esquerda”. O aprendizado que os elos mais conscientes do ativismo político global devem extrair disso é que a revolução ou a transformação da Ordem só será alcançada mediante a ação decisiva da classe trabalhadora como tal, esta sim a condutora da emancipação humana de toda forma de preconceito. As ações de marketing identitárias são um engano, um cavalo de troia dentro da esquerda, dirigido propositalmente desde finais do século passado e não podem levar a esquerda mundial ao engano.

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