Nesta segunda-feira (15), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), trouxe uma nova versão sobre as acusações de violência doméstica feitas por sua esposa, Regina Carnovale Nunes, em 2011. O prefeito, que também é pré-candidato à reeleição, insistiu que o boletim de ocorrência contra ele feito pela mulher é falso. No entanto, o documento existe e foi apresentado por jornalista da Folha de S. Paulo durante sabatina promovida pelo UOL e pelo jornal.
Depois de 13 anos, o caso de violência doméstica continua a gerar controvérsias e bloqueios na narrativa de Nunes, que ainda é casado com Regina. Enquanto ele e sua esposa negam as acusações e questionam a autenticidade do boletim de ocorrência, a Polícia Civil mantém a veracidade do registro. O episódio destaca as complexidades e as contradições em torno de um tema sensível e polêmico na vida pública do prefeito de São Paulo, em meio à disputa eleitoral em que seu principal adversário, Guilherme Boulos (Psol), guarda vantagem em relação a ele que possui a máquina de governo a seu favor.
Segundo mais recente pesquisa do Datafolha, Boulos, tem 23%, e aparece tecnicamente empatado com o prefeito, com seus 24% das intenções de votos.
O histórico da acusação
Em 18 de fevereiro de 2011, Regina registrou um boletim de ocorrência na 6ª Delegacia da Mulher, em Santo Amaro, zona sul de São Paulo, acusando Ricardo Nunes de violência doméstica, ameaça e injúria. Na ocasião, Regina afirmou aos policiais que havia vivido em união estável com Nunes por 12 anos e que haviam se separado sete meses antes devido aos ciúmes excessivos dele.
Segundo o boletim de ocorrência, Nunes não aceitava a separação e atormentava Regina com ameaças, mensagens intimidatórias e visitas indesejadas à sua casa, onde fazia escândalos e a ofendia com palavrões. Regina relatou que estava com medo de Nunes devido ao seu comportamento.
A reação de Nunes
Menos de um mês após o registro de Regina, Ricardo Nunes também foi à polícia e registrou um boletim de ocorrência por lesão corporal, alegando que Regina o havia agredido durante uma conversa sobre pensão alimentícia.
Quando o caso foi revelado pela Folha em 2020, Nunes, então vereador e candidato a vice-prefeito ao lado de Bruno Covas (PSDB), negou qualquer agressão. Ele afirmou que o boletim de ocorrência havia sido registrado em um momento em que Regina estava emocionalmente abalada e disse coisas que não aconteceram.
“Não fiz e jamais faria nenhum tipo de agressão contra minha esposa ou qualquer pessoa”, disse Nunes na época, afirmando que o casal passou por momentos difíceis, mas que nunca houve agressão física ou verbal de sua parte.
Publicações nas redes sociais
Além do boletim de ocorrência, a reportagem também teve acesso a registros de publicações nas redes sociais de Regina, onde ela falava sobre as disputas de pensão alimentícia, chamava Nunes de bandido e afirmava ter provas das agressões sofridas. Em uma das postagens, Regina dizia: “Como um político pode ser bom para o povo se ele não consegue ser bom nem para ex-mulher e filha no qual viveu por 17 anos?”
“Acabei de receber voz de prisão do vereador Ricardo Nunes tudo porque fui cobrar a pensão da minha filha que tive com ele que é de direito dela (…) um bandido que não ajuda a própria filha enquanto banca tudo quanto é festa e finge ser um homem bom esse é o político que está no poder nem a própria filha ajuda”, diz ela em outra postagem, segundo o Vermelho.
Nunes e Regina afirmaram posteriormente que o perfil dela havia sido hackeado em 2014 ou 2015 e que as publicações não foram feitas por ela.
Postagem recente de Regina Carnovale Nunes em rede social
Declarações contraditórias
Em 2020, Regina enviou uma nota à Folha negando as agressões e afirmando que estava emocionalmente abalada na época do registro do boletim de ocorrência. Ela repetiu essa versão em uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em novembro de 2020, dizendo que não se lembrava de ter feito o boletim de ocorrência.
Nunes também afirmou no programa Roda Viva em 2021 que a esposa nunca registrou o boletim de ocorrência, alegando que um advogado contratado por Regina verificou que o documento não existia na delegacia.
A sabatina
Durante a sabatina Folha/UOL, Nunes reafirmou que o boletim de ocorrência foi “forjado”. Ele apresentou um documento no qual a Polícia Civil afirma que a via original assinada não foi localizada, mas que a ocorrência estava registrada no livro de registros da delegacia.
O prefeito afirmou que trazer o questionamento à sabatina “é lamentável”. “Minha esposa, estamos juntos há 27 anos, tenho três filhos e um neto. Usar um negócio desse é repudiante. É obvio que é forjado”, disse.
Na sequência, a jornalista Carolina Linhares leu trecho de uma nota enviada pela esposa do prefeito à Folha em 2020. Na nota, de 15 de outubro daquele ano, Regina afirmou: “sobre o boletim, eu estava num momento difícil, muito sensível e acabei dizendo coisas que não são reais”. A jornalista ressaltou que a mulher de Nunes não negou o registro do boletim.
Questionada pela reportagem, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo confirmou que Regina esteve na 6ª Delegacia da Mulher para prestar queixa e garantiu a legitimidade dos boletins de ocorrência.
No entanto, a Secretaria de Segurança afirma que o caso não teve andamento com a instauração de um inquérito policial porque “havia necessidade de representação contra o autor, o que a vítima não fez”.