Pré-candidatura de Ramagem no Rio entra em colapso após divulgação de áudios

Pré-candidatura de Ramagem no Rio entra em colapso após divulgação de áudios

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Apesar da tentativa dos bolsonaristas em abafar um dos maiores escândalos da história da República, a divulgação do áudio encontrado com o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem (PL), deve colapsar a candidatura do chefe da Abin do ex-presidente Jair Bolsonaro à prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições municipais marcadas para este segundo semestre de 2024.

A Polícia Federal (PF) encontrou nos arquivos de Ramagem uma gravação em que Bolsonaro discutia com aliados um plano para blindar seu filho 01, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em meio a investigações sobre a prática de “rachadinha”.

A gravação foi apreendida pela Polícia Federal na casa de Ramagem, em 25 de janeiro deste ano, e compõe o inquérito que apura o monitoramento ilegal realizado pela Abin durante a gestão de Bolsonaro.

Irritado com Ramagem, Bolsonaro afirmou a aliados que o áudio foi gravado de forma clandestina. Segundo a PF, o encontro foi realizado no Palácio do Planalto, em 25 de agosto de 2020, e reuniu o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, cuja pasta comandava a Abin, além de advogadas de Flávio Bolsonaro, Luciana Pires e Juliana Bierrenbach.

Durante a gravação, Ramagem afirmou que “seria necessário a instauração de procedimento administrativo” contra os auditores “visando anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos”.

Nesta segunda (15), o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), retirou o sigilo do áudio gravado por Ramagem.

Durante o encontro, as advogadas apresentam a Jair Bolsonaro, Heleno e Ramagem um suposto esquema criminoso operado por quatro funcionários da Receita Federal que, acreditavam elas, poderia anular as investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro em relação ao senador.

A gravação também mostra que Jair Bolsonaro disse que Wilson Witzel, à época governador do Rio, sugeriu ajudar Flavio Bolsonaro em troca de uma vaga no Supremo Tribunal Federal.

Candidatura em risco

Bolsonaro ficou “furioso” com a existência do áudio e ficou incrédulo com o fato de um diretor da agência gravar o presidente da República.

A confiança de Bolsonaro em Ramagem, delegado da PF e segurança do então presidenciável depois da facada que levou na eleição de 2018, foi algo fundamental para a escolha dele como representante do PL na eleição carioca.

Pesquisas indicam que o deputado federal registra apenas 7%, segundo a pesquisa Datafolha da semana passada, e vê o prefeito Eduardo Paes (PSD) pontuar confortáveis 53%. Ramagem passou a ser a escolha da extrema direita na cidade depois que o nome de Flávio ser vetado pelo pai e de o general Walter Braga Netto ficar inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Mesmo incomodado com a descoberta do áudio clandestino no computador do deputado federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro mantém a agenda de compromissos relacionados à pré-campanha do aliado à prefeitura do Rio.

Já o pré-candidato desmarcou compromissos que teria no Rio no início da semana que vem e decidiu ir a Brasília, onde vai se reunir com o ex-presidente. Na quarta (17), ele vai prestar depoimento à PF.

Cerca de 70 funcionários já trabalham na pré-campanha de Ramagem e vêm preparando o deputado para a disputa, sob comando dos marqueteiros Paulo Vasconcelos e Guillermo Raffo. A crise surge em momento decisivo, a poucos dias do início das convenções partidárias — que podem ser realizadas entre os dias 20 de julho e 5 de agosto.

A do PL deve ser no dia 22. Há agendas de rua de Ramagem com Bolsonaro marcadas para os dias 18 e 19, nas zonas Norte e Oeste do Rio. Aliados reconhecem que, a depender dos desdobramentos, elas podem ser canceladas — o que seria um sinal da possibilidade de o PL rifar a candidatura.

Na última quinta, Ramagem estava em um treinamento para melhorar o desempenho no programa eleitoral de TV quando a notícia da gravação veio à tona. Bolsonaristas receberam ordens para evitar generalizações em críticas à PF, já que o próprio Ramagem é delegado da corporação e pretende ter como mote de campanha o discurso da “inteligência a serviço da ordem, em parceria com o governo do Rio”. A segurança é citada como principal problema do Rio pela maioria dos entrevistados pelo Datafolha.

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