Luis Nassif*
Basta pronunciar as palavras “corte de gastos” para ser consagrado pelo terraplanismo econômico e administrativo de um jornalismo de slogans.
Aí vem os editoriais dos três jornais – Folha, Estadão e Globo – saudando Tarcisio de Freitas como grande gestor, porque anunciou corte de despesas e investimentos em São Paulo.
Não detalhou os cortes, a não ser o corte por represália à Fundação Padre Anchieta e o corte à Casa do Menor, antiga Febem.
Nada mais disse, nem lhe foi perguntado. Basta pronunciar as palavras “corte de gastos” para ser consagrado pelo terraplanismo econômico e administrativo de um jornalismo de slogans.
Aí, vão aparecendo os fatos.
- Em 2023, educação em São Paulo cai ao pior nível desde 2014,
- O Painel da Folha mostra que o programa federal Pró-Trilhos, lançado com toda pompa por Tarcísio/ em setembro de 2021, como Ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, jamais saiu do papel. Até hoje não gerou um quilômetro de ferrovias sequer.
- O ajuste fiscal – que tanto encantou os editorialistas dos jornais – não passa de uma renegociação das dívidas dos estados com a União, uma excrescência criada pelo governo FHC e que o ministro da Fazenda Fernando Haddad está tentando corrigir.
Mas para os bravos editorialistas, não há necessidade de comprovação, análise de gestão, análise de histórico do gestor, apuração de resultados práticos. Basta a retórica. Ou então, como a Velhinha de Taubaté, acreditar nos sucessivos factoides que pavimentaram a carreira pública de Tarcísio de Freitas.
Pergunto: é assim que pretendem cumprir a missão histórica do jornalismo? Um pouco de pesquisa histórica, de como o jornalismo foi visto, como um dos pilares das sociedades democráticas:
“A missão histórica do jornalismo é informar, educar e entreter o público, além de servir como um contraponto ao poder e como um guardião da democracia. O jornalismo tem o papel fundamental de investigar, relatar e analisar os eventos e questões importantes da sociedade, garantindo que a população tenha acesso a informações precisas e relevantes para formar suas opiniões e tomar decisões informadas.
Além disso, o jornalismo também deve fiscalizar o poder público, denunciar abusos, injustiças e corrupção, e dar voz aos grupos marginalizados e minoritários. Em resumo, a missão histórica do jornalismo é promover a transparência, a accountability e a liberdade de expressão em uma sociedade democrática”.
O endosso cego à retórica de Tarcísio, junto à falta completa de avaliação sobre sua história e, mesmo, sobre o que entregou em quase um ano e meio de gestão, cumpre com as responsabilidades do jornalismo? Ou o jornalismo é utilizado apenas para fins políticos e para interesses pessoais.
*GGN