Lago na capital deve atingir nesta terça (14) maior nível já registrado; número de mortos chega a 147 no estado.
A cidade de Porto Alegre viu nesta segunda-feira (13) uma corrida contra o tempo para erguer barreiras contra a água e resgatar moradores que ainda estão em áreas de risco.
Tudo isso porque as novas chuvas que atingem a capital gaúcha desde o fim de semana tem feito o nível do lago Guaíba voltar a subir, o que pode fazer as inundações chegarem a regiões até aqui incólumes à tragédia.
Especialistas apontam que as chuvas em sequência dificultam o escoamento, e que a cidade ainda pode permanecer por até um mês embaixo d’água. “O quadro de cheias ainda está em andamento e não há sinal de que será revertido nos próximos dias”, diz o professor Rualdo Menegat, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A previsão é que o Guaíba chegue a 5,40 metros nesta terça (14), maior nível já registrado — o recorde é de 5,33 metros, do último dia 6, segundo o O IPH (Instituto de Pesquisas Hidráulicas) da UFRGS. Na noite de sábado, o lago estava com 4,56 metros, mas desde então tem subido de maneira constante devido à chuva em todo o estado. Às 21h15 desta segunda, o nível estava em 5,11 metros.
O nível de alerta do lago é 2,5 metros. A inundação ocorre quando o nível chega a 3 metros. Os dados são do Sistema Hidro, da ANA (Agência Nacional de Águas), que pertence ao governo federal.
A capital gaúcha está nas margens do Guaíba, onde desembocam os principais rios que nascem no interior do estado, na área de planalto. Os rios Jacuí, Taquari/Antas, Sinos, Caí e Gravataí voltaram a receber chuvas ao longo de seus leitos, o que ajudou a aumentar o nível do lago.
Segundo a Sala de Situação do governo do Rio Grande do Sul, nas últimas 24 horas foram registrados 80 mm de chuva nas cidades da região serrana e, com isso “praticamente todos os grandes rios do estado apresentam tendência de elevação, com subida rápida em cotas de inundação severa nas bacias dos rios Caí e Taquari, e posteriormente chegando no Jacuí, sendo que as cidades nos deltas das respectivas bacias estão com a permanência da cheia”.
O Guaíba desemboca na lagoa dos Patos, que tem apenas um ponto de vazão: uma pequena boca para o Atlântico na região de Rio Grande. O avanço da água também deve provocar erosão e risco de danos na cidade, por conta do volume e velocidade de deslocamento. Para isso acontecer, no entanto, é preciso que a maré baixe.
Essa ameaça de piora das inundações fez a prefeitura da capital erguer nesta segunda uma barricada em uma das principais vias do centro histórico. O muro de 1,8 metro de altura, montado na avenida Presidente João Goulart, foi instalado para conter a nova elevação do nível do lago.
Caminhões-guincho e retroescavadeiras trabalharam desde o começo da manhã movendo sacos de areia, alguns com mais de 1 metro de diâmetro, para construir o bloqueio. Outras duas barreiras de menor extensão foram erguidas na rua General Salustiano, paralela à avenida.
Além disso, socorristas têm trabalhado para retirar quem vive nas áreas sob risco. Segundo o secretário municipal do Trabalho, Tiago Simon, a maioria das pessoas afetadas já foi resgatada, mas há moradores que acabaram ficando e que somente agora estão aceitando deixar suas casas.
“Por medo, por falta de suprimentos e até pelo fato de começar a virar uma terra sem lei, as pessoas estão começando a sair”, disse.
Os socorristas estão de prontidão na orla e se revezam nas chegadas e saídas de barcos. As embarcações, que antes voltavam cheias de gente, agora chegam com menos pessoas a bordo. A reportagem acompanhou nesta segunda a chegada de embarcações com duas a quatro pessoas resgatadas.
Ainda nesta segunda, o prefeito Sebastião Melo (MDB) anunciou que está sob análise a abertura de uma pista para criação do segundo corredor humanitário em Porto Alegre, por causa do alto volume de tráfego no primeiro corredor, inaugurado na última sexta (10) após a demolição da passarela de concreto que conectava o centro à rodoviária.
Além disso, há problemas também em cidades do interior do estado, como em Caxias, Gramado e Pelotas — todas elas enfrentaram novas enchentes nesta segunda.
A previsão é que as chuvas comecem a diminuir a partir desta terça-feira, de acordo com o Climatempo — porém, devem retornar na sexta (17), e prosseguir pelo fim de semana.
Segundo o boletim mais recente da Defesa Civil do estado, divulgado às 18h desta segunda, o número total de mortos pela tragédia é de 147 mortes. Esse dado ainda pode aumentar nos próximos dias, já que ainda há 127 desaparecidos.
As mortes ocorreram em 44 cidades, conforme a Defesa Civil, e há 806 feridos.
Em razão das enchentes, que afetaram mais de 2,1 milhões de pessoas no estado, a população tem buscado refúgio na casa de parentes ou amigos em outros estados, como Santa Catarina.
Na comparação entre os boletins, caiu o número de desabrigados, ou seja, de quem teve a casa destruída e precisa de abrigo do poder público. Pela manhã eram 79.540 pessoas. À noite, o documento apontava 77.405 nesta situação.
O total de desalojados, vítimas das cheias que tiveram de sair de casa, mas podem estar com parentes ou amigos, somava 538.245 pessoas.
Dos 497 municípios gaúchos, 450 foram afetados pela tragédia.