Tel Aviv fechar passagens no enclave tornou as operações humanitárias quase impossíveis, alertou a ONU
As delegações de Israel e do Hamas abandonaram as negociações indiretas no Cairo sem alcançar um acordo de trégua na Faixa de Gaza, onde prosseguem os bombardeios israelenses. Cerca de 110 mil pessoas fugiram da cidade de Rafah – ameaçada por um ataque em grande escala do Exército israelense – para áreas que consideram menos perigosas no estreito território palestino, alertou a ONU nesta sexta-feira (10/05).
“Cerca de 30 mil pessoas fogem de Rafah todos os dias”, disse o chefe do Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários (OCHA) para Gaza, Georgios Petropoulos, acrescentando que “a maioria destas pessoas já teve de se deslocar 5 ou 6 vezes seguidas” desde o início da guerra entre Israel e o Hamas.
Na última madrugada, equipes da AFP observaram disparos de artilharia israelense contra a cidade de Rafah, na fronteira com o Egito, e testemunhas relataram bombardeios na Cidade de Gaza e em Jabaliya, no norte do território.
Nos últimos dois dias, os países mediadores nas negociações – Catar, Egito e Estados Unidos – tentaram concretizar um pacto que permitiria a libertação de reféns israelenses e evitaria um ataque a Rafah, após sete meses de guerra.
Porém, o movimento palestino que aceitou na segunda-feira a proposta apresentada pelos mediadores, afirmou em uma carta a outros grupos palestinos que Israel rejeitou a oferta.
“Consequentemente, a bola está agora totalmente com a ocupação”, afirma o texto do Hamas, grupo considerado terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
O canal egípcio Al Qahera News, próximo ao serviço de inteligência do país, informou que os mediadores continuam com os esforços para “aproximar as posições das duas partes”, depois que as delegações deixaram o Cairo.
Em uma conversa com seu homólogo norte-americano, Antony Blinken, o ministro das Relações Exteriores do Egito, Sameh Shoukry, fez um apelo às partes por “flexibilidade e para que mobilizem todos os esforços necessários para alcançar um acordo de trégua”, informou sua pasta.
Ajuda paralisada
O fechamento por parte de Israel de passagens de fronteira cruciais na Faixa de Gaza cortou as principais vias de acesso e tornou as operações humanitárias quase impossíveis, alertou a ONU.
“Perdemos o principal ponto de entrada para a ajuda humanitária”, disse Andrea de Domenico, que dirige o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) nos Territórios Palestinos, em entrevista à AFP na quinta-feira (09/05).
Israel fechou no domingo a passagem de fronteira de Kerem Shalom, entre seu território e o sul de Gaza, pela qual entrava grande parte da ajuda ao território palestino, depois de um ataque de foguetes do Hamas que matou quatro soldados na região.