A Justiça como alvo, e Lula também
Era para ter sido assim: Bolsonaro no papel principal de mais da encenada pela Companhia Nacional da Mentira, cuja turnê pelo país teve início da Avenida Paulista, no final de fevereiro; o pastor Silas Malafaia como coadjuvante; e os bolsonaristas de Copacabana na condição de barulhentos figurantes do espetáculo.
Mas não foi. Bolsonaro delegou a Malafaia, sua boca de aluguel, o que não teve coragem de dizer sobre o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e os militares. Louco para ser preso temporariamente, Malafaia disse. E apenas uma fatia minúscula de bolsonaristas apareceu para ouvi-los.
Segundo pesquisa do Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo, o ato convocado por Bolsonaro, sob o pretexto de que o Brasil está à beira de uma ditadura, reuniu cerca de 32.750 pessoas. O número foi levantado a partir de imagens áreas analisadas por programas de computador.
A estreia da farsa na Avenida Paulista reuniu 185 mil. Em Copacabana, moram 146 mil pessoas, em boa parte aposentadas. Três delas foram vistas fantasiadas de foguete em homenagem a Elon Musk, o segundo homem mais rico do mundo, dono do X, ex-Twitter, e de uma fábrica de foguetes espaciais.
O comício foi coreografado nos mínimos detalhes. Uma cubana, ex-comentarista da rádio Jovem Pan, perguntou se a plateia lembrava a primeira vez que usou papel higiênico. Ninguém respondeu. Então, ela disse que sua primeira vez foi aos 12 anos, quando chegou ao Brasil depois de fugir da ditadura em Cuba. Sim, e daí?
Gustavo Gayer, deputado federal (PL-GO), discursou chamando Bolsonaro de “guerreiro da liberdade mundial”; ora vejam só, logo Bolsonaro que sempre defendeu a ditadura de 64. E em inglês, mandou um recado para Musk:
“Olhe para o que está acontecendo no Brasil. Pedimos socorro em nome de nossa liberdade”. (Patético!)
O pastor e deputado Marco Feliciano, ex-PSC, ex-PSD, ex-PSC novamente, ex-PODE, ex-Republicanos, e hoje PL, apressou-se em pregar que os bolsonaristas são maioria no Brasil. Julgou dispensável explicar porque, sendo maioria, eles não reelegeram seu guia. Feliciano comparou Bolsonaro a Moisés, o profeta que libertou os hebreus.
Aí entrou Malafaia em cena e a multidão delirou. Sobre o golpe bolsonarista fracassado, ele disse com o maior cinismo:
“Bolsonaro apresentou um documento sugestivo aos militares, isso não é minuta de golpe. É a maior fake news da história política do Brasil inventada pela Globo. Bolsonaro não propôs golpe de estado”.
“Lula não foi impedido de governar, os ministros também não. O que eles chamam de golpe foi meia dúzia de baderneiros, não teve canhão, tiro. Isso é uma armação para atingir Bolsonaro”.
*Blog do Noblat