Condições que deram origem à Lava Jato estão longe de serem superadas e o país está sujeito a novas ofensivas
A “intervenção imperialista” contínua no Brasil criou as condições ideais para a existência da Operação Lava Jato e a saliência de figuras como Sergio Moro, Deltan Dallagnol e outras personagens que forjaram uma “máquina anticorrupção” que acabou por exterminar milhares de empregos e detonar empresas nacionais. Essas condições, que pesquisadores têm chamado de “imperialismo legal”, não foram superadas, de modo que o País segue sujeito ao surgimento de novas “Lava Jato”.
O alerta é do pesquisador Luís Eduardo Fernandes, autor do livro “A Internacional da Lava Jato: imperialismo, nova direita e o combate à corrupção como farsa”, da editora Autonomia Literária. Fernandes foi entrevistado por Luis Nassif na noite de terça (9), quando explicou que a obra é produto parcial da tese de doutorado que investigou as condições econômicas, sociais e institucionais que deram origem à Operação Lava Jato.
“A gente chegou à grande conclusão de que a Lava Jato foi produto de processo contínuo de intervenção de um novo tipo de imperialismo que tem no século XXI, que a gente chama de ‘imperialismo legal’, que tem a ver com a guerra jurídica e econômica [a nível transnacional]. E esse processo contínuo de intervenção imperialista no Brasil criou as condições de existência de um Moro, de um Dallagnol e de outras coisas”, disse Fernandes.
No livro, Fernandes analisa a estrutura da política anticorrupção criada pelos Estados Unidos e que penetrou nas instituições brasileiras nas últimas décadas. Fazendo referência a um documentário inédito do canal TVGGN sobre a influência dos EUA no Lava Jato, Fernandes lembrou como a arquitetura dos órgãos americanos é capaz de lançar seus tentáculos sobre empresas e governos de outros países.
“Há uma enorme divisão do trabalho com relação à política externa anticorrupção, que envolve órgãos como o DOJ, o DHS e o departamento de tesouro americano, que aplica as sanções econômicas para indivíduos, empresas e outros países [processados e condenados por corrupção]”, comentou.
Além disso, os Estados Unidos investem bilhões de recursos “para fortalecer entidades da sociedade civil que levam essa pauta anticorrupção para países periféricos, através de ONGS e tanques de pensamentos [think tanks], entre outras entidades transnacionais.” Não raramente, essas entidades acabam se relacionando com a imprensa tradicional e servindo como fonte para reportagens que atendem aos interesses dessa indústria anticorrupção.
Talvez a Lava Jato não tivesse ultrapassado as fronteiras sem a conivência – e até mesmo certo grau de subserviência – de algumas autoridades brasileiras míopes, e sem a FPCA (lei anticorrupção americana) e todo o aparato legal criado pelos EUA para alcançar a corrupção de outros países.
“Uma parte da crítica à Lava Jato, corretamente, e com muitos méritos, se centra muito nos métodos jurídicos [que viabilizaram tamanho poderio da operação]. No entanto, a gente tem que entender a Lava Jato num contexto mais geral, social e econômico, até para fazer o debate necessário para o país se proteger e não existirem outras Lava Jato”, pontuou Fernandes.
*GGN