Linha vermelha, por André Neves Soares

Linha vermelha, por André Neves Soares

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O erro estadunidense se agrava pelo que parece ser um erro também estratégico, tentar sufocar um país da extensão e história da Rússia.

A expressão “linha vermelha” foi repetidamente utilizada por Vladimir Putin antes da invasão da Ucrânia. Com efeito, apesar da OTAN, aproveitando-se do momento de caos na Rússia, na década de 1990, ter violado o acordo de não inclusão de antigos países da União Soviética nas suas fileiras, a Rússia havia estabelecido um “limite territorial” claro, que não deveria ser ultrapassado, e esse limite era justamente a Ucrânia. Essa era a “linha vermelha”. É claro que, se pudesse, a Rússia teria impedido que boa parte dos países que fizeram parte da famosa “cortina de ferro” passassem a integrar a OTAN, notadamente Estônia, Letônia e Lituânia, além da Ucrânia, por uma questão de fronteiras. Não é agradável para qualquer país ter um vizinho inimigo, ainda mais com capacidade bélica nuclear, instalado do outro lado da sua fronteira. Duvido que os Estados Unidos permitissem que o México firmasse acordo com a Rússia para instalação de ogivas nucleares em seu território.

É fato que Putin é um ditador que se aproveitou da conjuntura caótica da Rússia para implantar seu projeto pessoal de poder. Quase ninguém duvida das atrocidades que vêm sendo cometidas, por ambos os lados, após a invasão russa. De repente, o mundo se deu conta de que o acordo de cavalheiros da “guerra fria” não só tinha acabado, com o desmoronamento do bloco soviético, mas também de que estamos à beira de uma terceira guerra mundial, talvez a última. O grande problema é que Putin não está isolado na tentativa de fazer o relógio da catástrofe bater à meia-noite. Pelo contrário, as principais potências ocidentais, capitaneadas pelos Estados Unidos, estão a forçar o que há poucos anos atrás parecia uma possibilidade distante: uma guerra global.

Nesse sentido, a denúncia da Rússia de “participação direta” das potências ocidentais na guerra na Ucrânia, baseada no vazamento de uma conversa confidencial entre militares alemães de alta patente sobre o fornecimento de armas à Kiev, parece confirmar a suspeita de várias fontes internacionais, mídia, pesquisadores, historiadores, cientistas políticos etc., de que o ocidente mais anseia do que rejeita a possibilidade de um conflito mundial armado. Tenho certeza, caro leitor, de que o único obstáculo que impede a deflagração do conflito é, ainda, a questão do poderio nuclear da Rússia. Na falta de opção mais direta e sangrenta para derrubar a Rússia, o Ocidente tenta fazê-la sangrar desde que a Ucrânia foi invadida. Contudo, malgrado os inúmeros confiscos de ativos russos no exterior, a economia russa continua a dar sinais de vida e, o que é pior para o ocidente, parece estar suportando esses últimos dois anos conturbados melhor do que muitos países da OTAN.

Por conseguinte, tem sido um erro sistemático dos Estados Unidos, como principal país desse acordo militar, incentivar o envio de armas ocidentais para o front da guerra. É mais do que óbvio que a Ucrânia não pode vencer uma guerra na qual ela é inúmeras vezes mais fraca do que o oponente russo, pelo menos pelas vias de fato tradicional, ou seja, pela guerra com armamentos não nucleares. Realmente, a única chance concreta que a Ucrânia tem é o completo envolvimento das potências ocidentais. Mas isso violaria o tal “acordo de cavalheiros” de deixar de fora das escaramuças entre Estados Unidos e Rússia (herdeira do falido bloco soviético) as armas nucleares. Não é preciso ser um cientista para imaginar a enormidade dos danos que uma guerra entre a Rússia – talvez com a China ao seu lado – e o bloco ocidental, com lançamento de milhares de ogivas nucleares de lado a lado, causaria ao planeta. Seria o armagedon!

*GGN

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