O jornalista e escritor Sérgio Ramalho comenta que, desde 2012, Rivaldo Barbosa consolava famílias de vítimas de crimes que nunca seriam resolvidos
Após a prisão do ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, acusado de ter planejado a execução da vereadora do PSol, a família de Marielle Franco se surpreendeu com a participação de Barbosa no crime, uma vez que ele consolou publicamente os entes das vítimas.
No entanto, não foi a primeira vez que o ex-chefe da Polícia fez cena. Em Decaído, Ramalho conta que em 2012 o policial foi responsável pelas investigações da morte de Marcone Sacramento, ritmista da escola de samba Imperatriz Leopoldinense. O ritmista foi morto após conflito com Luiz Pacheco Drumond, patrono da escola e bicheiro.
“Quando ele foi executado, o Rivaldo foi para lá e consolou a família. Foi muito parecido como ele fez com o caso da Marielle, que ele aparece em imagens consolando a mãe e o pais de Marielle, a irmã e a mulher. Então, ele também foi naquela situação lá consolar a mãe do Marconi. As investigações começaram a apontar obviamente como possível mandante suspeito o Luiz Drummond, por conta desse entrevero que ele havia tido com o mestre Marcone. Entre as pessoas suspeitas de participar efetivamente da execução estava o capitão Adriano da Nóbrega”, comenta o autor.
As investigações, no entanto, não deram em nada, assim como diversos outros casos suspeitos que, há anos, estão sem resolução.
Sendo assim, advogados de casos ainda não resolvidos devem pedir a reabertura dos processos, como a morte de Claudia Ferreira Silva, vítima de um tiro no pescoço. Dez anos depois do crime que chocou o país, os policiais militares apontados como suspeitos por matar e arrastar a auxiliar de serviços gerais na Zona Norte do Rio foram inocentados pelo juiz Alexandre Abrahão Teixeira, do 3º Tribunal do Júri.
“A gente já descobriu que alguns inquéritos que têm algum tipo de relação com esses grupos de matadores no qual também o Ronnie Lessa integrava ficaram sem nenhum resultado. Alguns, inclusive, desapareceram peças de provas do inquérito”, continua o escritor.
Todos estes casos indicam, na avaliação de Ramalho, que Rivaldo Barbosa já atuava mais em função de acobertar criminosos do que efetivamente cumprir o ofício de elucidar a morte de civis e encaminhar os casos para o Ministério Público e para a Justiça.
Vingança
Ainda que a grilagem de terras seja uma das práticas atuais mais rentáveis das milícias do Rio de Janeiro, que hoje tem braços no Legislativo e no Judiciário. Tanto é que o entrevistado cita as constantes promoções de Rivaldo Barbosa na Polícia Civil.
Além da questão fundiária, outro motivo que pode ter levado à execução de Marielle Franco e, consequentemente, seu motorista Anderson Gomes, foram os trabalhos da vereadora ao lado de Marcelo Freixo (PSol) na CPI das Milícias.
“O relatório final da CPI das Milícias em 2008 apresenta nomes de pessoas que acabaram sendo indiciadas no relatório final e que acabaram se tornando alvos de investigações. Muitos caíram do céu ao inferno. Ali, por exemplo, tinha o Cristiano Girão, que era um vereador que acabou deixando perdendo o mandato, foi preso por conta dessa relação com milícia e foi condenado”, aponta o jornalista.
Ainda em 2008, o relatório já apontava suspeitas da ligação dos irmãos Brazão com grupos paramilitares. “Eu ainda acho que tem peças soltas nesse quebra cabeça. Como Lewandovski falou, a investigação se encerra aqui, mas isso não significa que ela não possa ser reaberta com outras informações. Acredito que isso ainda está sendo trabalhado porque essa teia ela é um pouco mais ampla do que estamos vendo agora”, acredita.
*GGN