Para a PF, Bolsonaro e aliados usaram cartões falsificados para acompanhar o desfecho do plano de golpe em outro país.
A Polícia Federal retratou a fraude nos cartões de vacinação, que se deu em benefício de Jair Bolsonaro e seus familiares e assessores, como parte do roteiro do golpe na democracia planejado pelo ex-presidente e membros da antiga cúpula do governo, cujo desfecho foi o atentado de 8 de Janeiro de 2023.
Segundo a PF, a falsificação dos cartões de vacina pode ter sido utilizada pelo grupo para acompanhar o desfecho da marcha golpista contra a sede dos Três Poderes, em Brasília, a partir de outro País.
Bolsonaro e outras 16 pessoas foram indiciadas nesta terça (19) por associação criminosa e inserção de dados falsos no sistema do Ministério da Saúde.
No relatório do indiciamento com mais de 230 páginas, cujo sigilo foi levantado pelo ministro Alexandre de Moraes, a PF cita o inquérito 12.100, que investiga os atos golpistas, e associa aquela apuração à fraude em cartões de vacinas.
“Por fim, conforme exposto na representação policial relacionada aos fatos investigados na Pet. 12.100/DF, que apura condutas para uma tentativa de Golpe de Estado e Abolição Violenta do Estado Democrático de Direito, o presente eixo relacionado ao uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens ilícitas, no caso a ‘Inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde para falsificação de cartões de vacina’, pode ter sido utilizado pelo grupo para permitir que seus integrantes, após a tentativa inicial de Golpe de Estado, pudessem ter à disposição os documentos necessários para cumprir eventuais requisitos legais para entrada e permanência no exterior (cartão de vacina), aguardando a conclusão dos atos relacionados a nova tentativa de Golpe de Estado que eclodiu no dia 08 de janeiro de 2023“, escreveu a PF.
A PF ainda aguarda cooperação dos EUA para saber se Bolsonaro, de fato, usou o cartão que mandou falsificar para sair do país.
“A investigação aguarda os dados decorrente do Auxilio Jurídico em matéria penal solicitado junto ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos – DOJ, que podem esclarecer se os investigados fizeram uso dos certificados de vacinação ideologicamente falsos quando da entrada e estadia no território norte-americano, podendo configurar novas condutas ilícitas.”
Em outros inquéritos, a PF já colheu indícios que mostram que Bolsonaro tentou arregimentar apoio entre os militares para dar um golpe na democracia através da decretação de GLO, estado de sítio ou estado de defesa. Mas sem aval dos comandantes do Exército e da Aeronáutica, o plano fracassou.
A última cartada do bolsonarismo foi mobilizar acampamentos pelo País e convocar o ato massivo que ocorreu em 8 de Janeiro, quando milhares de apoiadores do ex-presidente depredaram os prédios dos Três Poderes pedindo intervenção militar.
O indiciamento no caso dos cartões de vacinação falsificados é apenas o primeiro de três grandes inquéritos que estão em andamento contra Bolsonaro. O ex-presidente ainda é investigado pelos atos golpistas que culminaram no 8 de Janeiro, e também pelo desvio de joias milionárias recebidas da Arábia Saudita.
*GGN