Trabalhadores da Segurança pedem que Brasil rompa acordos comerciais e militares com Israel

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Nota da categoria elogia declarações de Lula sobre genocídio de palestinos e afirma que relações com ‘empresas sionistas’ são ‘utilizadas pela extrema-direita e configuram ingerência externa na Defesa e na Segurança Pública’

Um grupo de cerca de 30 figuras representativas dos setores da Segurança e da Defesa publicaram neste domingo (18/02) uma nota de repúdio sobre as recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a ofensiva militar israelense à Faixa de Gaza, e a posterior resposte de Israel a respeito

O comunicado, embora direcionado a outras autoridades, defende as palavras expressadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante sua visita à Etiópia, na qual comparou o massacre dos palestinos em Gaza por ação dos militares israelenses ao extermínio promovido pela ditadura nazista de Adolf Hitler ao povo judeu, entre os Anos 30 e 40.

Além disso, o documento solicita ao presidente que responda às represálias anunciadas por Tel Aviv rompendo os acordos comerciais e militares vigentes entre o Estado brasileiro e o israelense.

“Repudiamos, em particular, as relações estabelecidas nas estruturas da Defesa e Segurança públicas com empresas sionistas israelenses e o Estado de Israel. Esta colaboração não tem se mostrado neutra, ao contrário, é utilizada pelas forças de extrema-direita no país, e nesse sentido configura um tipo de ingerência externa na Defesa e na Segurança Pública”, afirma a nota.

Em seus primeiros parágrafos, os signatários da declaração afirmam que “nós somos trabalhadores da segurança pública, fazemos parte do povo brasileiro e temos acompanhado de perto o drama que vive o povo palestino, com crianças e mulheres, civis desarmados, médicos e hospitais sendo bombardeados de forma covarde, privados de alimentos e de assistência. Saudamos a decisão do governo do presidente Lula de apoiar a representação da África do Sul na Corte Internacional de Justiça contra o genocídio”.

“Nesse sentido, consideramos à Vossas Excelências o questionamento das relações do Brasil militares, comerciais e diplomáticas com o Estado-apartheid de Israel. Defendemos que sejam cancelados os contratos, acordos e convênios militares e comerciais do Brasil com esse Estado”, concluiu a nota.

O documento foi endereçado ao chanceler Mauro Vieira; ao assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim; ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski; ao ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida; e ao ministro da Defesa, José Múcio.

A Opera Mundi, o policial penal Abdael Ambruster, membro do movimento Policiais Antifascimo e um dos signatários do documento, afirmou que “a ideia de construir uma nota de repúdio em nível nacional acabou se colocando como uma necessidade, não só para defender o conjunto do povo palestino desarmado que vem sendo eliminado de forma sistemática, mas também para preservar a nossa soberania nacional, que está sendo questionada pelo sistema de inteligência de Israel, que ajudou, com suas ferramentas, disponíveis a setores ideologicamente ligados à extrema-direita, a preparar a tentativa de golpe”.

Ambruster, que é coordenador nacional de Segurança Pública do Partido dos Trabalhadores (PT) e foi um dos alvos de espionagem do governo de Jair Bolsonaro durante o escândalo do dossiê dos policiais antifascistas – o qual foi produzido pela Secretaria de Operações Integradas, à época gerida por André Mendonça, hoje ministro do Superior Tribunal Federal (STF) –, acrescenta que entre os diferentes acordos que o Brasil mantém atualmente com Israel no âmbito da segurança está o que permitiu a contratação do software de monitoramento First Mile, assinado em 2017 pelo governo de Michel Temer, e que custou cerca de R$ 9 milhões aos cofres públicos.

“Não podemos esquecer que o First Mile não foi usado somente pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), mas, também, pelas polícias de vários estados”, lembra o representante dos Policiais Antifascistas, que acrecenta “não temos controle tecnológico sobre essas ferramentas, que podem ser usadas por um país como Israel, em constante combate cibernético, pode ser usado como uma porta, um cavalo de troia, levando a ter acesso às bases de dados das polícias no Brasil, ao banco de dados de todos os cidadãos do país que estejam em poder das polícias civis, e facilmente acessados pelo seu serviço secreto, o Mossad. Esses que, aliás, já podem estar em nuvem”.

Leia a nota na íntegra:

Nota de Repúdio dos Trabalhadores da Defesa e Segurança Pública a acordos comerciais/militares Brasil-Israel

Aos senhores

Mauro Luiz Iecker Vieira,

Ministro de Relações Exteriores

Celso Luiz Nunes Amorim, Assessor-Chefe da Assessoria Especial da Presidência da República

Enrique Ricardo Lewandowski, Ministro de Justiça e da Segurança Pública

José Mucio Monteiro Filho, Ministro da Defesa

Silvio Luiz de Almeida, Ministro dos Direitos Humanos

Aos senhores governadores de Estado,

Nos dirigimos à Suas Excelências porque a situação é grave e urgente.

Nós somos trabalhadores da segurança pública, fazemos parte do povo brasileiro e temos acompanhado de perto o drama que vive o povo palestino, com crianças e mulheres, civis desarmados, médicos e hospitais sendo bombardeados de forma covarde, privados de alimentos e de assistência.

Saudamos a decisão do governo do presidente Lula de apoiar a representação da África do Sul na Corte Internacional de Justiça contra o genocídio.

Repudiamos, em particular, as relações de conhecimento de todos estabelecidas nas estruturas da Defesa e Segurança Pública com empresas sionistas israelenses e o Estado de Israel. Esta colaboração não tem se mostrado neutra, ao contrário, é utilizada pelas forças de extrema-direita no país, e nesse sentido configura um tipo de ingerência externa na Defesa e na Segurança Pública.

Nesse sentido, consideramos à Vossas Excelências o questionamento das relações do Brasil militares, comerciais e diplomáticas com o Estado-apartheid de Israel.

Defendemos que sejam cancelados os contratos, acordos e convênios militares e comerciais do Brasil com esse Estado.

– Solidariedade ao Povo Palestino!

– Fim do Genocídio na Palestina e pelo Cessar-fogo Imediato!

Abdael Ambruster, policial penal e coordenador Setorial Nacional

Fabrício Rosa, policial rodoviário federal

Ebenézer Aquino, major da RRm da CBMDF

Luciano Silva, coronel da RRm da PMAL e coordenador Setorial AL

Marcius Siddartha, agente de trânsito e coordenador Setorial DF

Aline Damasceno, policial penal federal

Daniel Barros, policial civil

Oscar Moiano, coronel da RRm da Brigada Militar do RS e coordenador Setorial RS

José Freitas, guarda municipal e coordenador Setorial PA

Eduardo Ronque, sgt da reserva do EB

José Nova, major de infantaria da reserva do EB

Ingrid Figueiredo, policial civil

Dilson Reis, policial civil

Valdeci Gomes, policial

Evandro Pereira Assunção

João Antonio Alves Guimarães

Roberta Esteves, policial penal federal

Fabrício Colombo, policial rodoviário federal e Coordenador Setorial SC

Leandro Prior, ex-policial militar em SP e coordenador Setorial de Segurança SP

Victor Firmo, guarda portuário

Celso Toscano, pesquisador em segurança

Thiago Mota, inspetor de Segurança da Petrobrás

Nickson Monteiro, policial penal

Luiz Soares, aposentado

Ricardo de Carvalho Miranda – Policial Penal do Paraná

Vanderlei Marques de Almeida, policial civil

Agrimaldo Santos de Souza, policial civil e coordenador Setorial de Segurança BA

Angela Galvão dos Santos Silva, coordenadora Setorial de Segurança AM

Maria Nysa Moreira Nanni, Delegada de Polícia e coordenadora do Setorial PR

Nízia Cecília Machado Dos Anjos

Juliana Pabla Soares Martins

Elizabete Lisboa Ribeiro

André Jefferson Marinho dos Santos

Aurélio dos Santos Dias

*Victor Farinelli/Opera Mundi

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