Alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal (STF), a existência de uma “Abin paralela” colocou em alerta ministros da própria Corte e integrantes da administração bolsonarista durante o governo do ex-presidente da República Jair Bolsonaro.
Segundo relatos obtidos pela equipe da coluna, dentro do próprio STF ministros já especulavam sobre a possibilidade de a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ter sido cooptada pelo governo para coletar informações e monitorar ilegalmente adversários políticos de Bolsonaro e outros alvos que poderiam ser considerados “inimigos” do Palácio do Planalto, como os próprios magistrados, diz Malu Gaspar, O Globo.
Os temores, tanto dentro do Supremo quanto de aliados de Bolsonaro, envolviam desde o uso de drones sobrevoando as casas dos ministros até mesmo a interceptação de conversas telefônicas privadas.
“Era um cenário de paranoia total”, resume um interlocutor de Bolsonaro.
Aliados do ex-presidente relataram à equipe da coluna que, por conta desse receio, evitavam fazer chamadas telefônicas de forma regular, optando pelo uso do WhatsApp, por conta da segurança da criptografia.
Além disso, a cautela com o que era postado nas redes sociais era redobrada, já que qualquer deslize poderia ser mal interpretado e atrair a atenção do “gabinete do ódio”.
“Se o presidente atacava o Rodrigo Maia, por exemplo, o ideal era evitar marcar uma agenda com o Maia depois, para isso não ser interpretado como traição”, diz uma fonte próxima de Bolsonaro, que diz ter sido alvo de “dossiê” feito por integrantes do próprio governo.
Os temores tinham seus fundamentos, como se viu. De acordo com a investigação da PF, um dos núcleos do esquema de monitoramento ilegal da “Abin paralela” mirou os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. O objetivo, segundo a apuração, era vinculá-los a uma das maiores facções criminosas do país, ainda que sem evidências.
Para os investigadores, as ações “apresentaram viés político de grave ordem representando mais um evento de instrumentalização” da Abin.