O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, nesta quinta-feira (25), das comemorações pelos 90 anos da Universidade de São Paulo (USP), destacando a importância da educação, a diversidade presente na instituição e a necessidade de cooperação internacional. Além deste aniversário científico, o 25 de janeiro também celebrou os 40 anos do comício das Diretas Já na Praça da Sé e também os 470 anos da fundação da cidade de São Paulo.
Também marcaram presença no evento, entre outros, a primeira-dama Janja da Silva; o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB); o ministro da Educação, Camilo Santana (PT); o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT); e a ministra da Saúde, Nísia Trindade. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não compareceu. Coube a Vahan Agopyan, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e ex-reitor da USP, representar a gestão estadual. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), também não foi ao evento.
Durante a solenidade, Lula ressaltou que, desde a implementação do sistema de cotas, a USP tem se tornado mais inclusiva, mostrando que o acesso ao “berço do conhecimento” não requer ter nascido em berço de ouro. Ele lembrou que mais da metade dos aprovados no último vestibular da instituição paulista são oriundos de escolas públicas. Segundo dados da própria universidade, das 10.662 vagas preenchidas no vestibular de 2023, 5.714 são de alunos que vieram do ensino público (ou seja, 54,1%). Entre esses estudantes, 2.020 são do grupo de Pretos, Pardos e Indígenas.
O presidente destacou que a USP está cada vez mais com a cara do Brasil. “Uma cara que é preta, uma cara branca, uma cara parda, uma cara indígena. Não é mais a USP pensada para que São Paulo oferecesse ao Brasil a inteligência para governar esse país, mas é a cara do povo brasileiro da periferia, que, durante muitas décadas, nem sonhava em chegar na USP.”
Presidente Lula durante a cerimônia realizada na noite desta quinta-feira (25) na Sala São Paulo, no centro da capital paulista – Foto: Ricardo Stuckert/PR
Oriundos da USP
Ele expressou sua gratidão à universidade, afirmando que, embora não tenha tido a oportunidade de estudar na USP, foi muito ajudado por mulheres e homens da instituição em sua trajetória. “Eu posso dizer pra vocês que, embora eu não tenha tido a oportunidade de estudar na USP, eu fui muito ajudado a construir tudo que nós temos nesse país com muitas mulheres e muitos homens da USP. Por isso, obrigado”, disse o ex-presidente.
Lula ressaltou a transformação da USP ao longo dos anos, afirmando que a universidade está cada vez mais representativa da diversidade do povo brasileiro. Ele enfatizou que a instituição não é mais apenas um centro de excelência voltado para São Paulo, mas uma verdadeira representação da diversidade étnica e social do Brasil.
Prioridade ao acesso ao ensino superior
Ao abordar a qualidade do ensino na USP, o presidente agradeceu à instituição e ressaltou a importância do conhecimento como uma ferramenta poderosa. No entanto, ele alertou sobre os perigos da desigualdade provocada pela concentração do conhecimento em poucas mãos, reforçando o compromisso com o investimento na educação, desde a creche até a pós-graduação.
Durante seu discurso, Lula argumentou que o conhecimento é uma das mais poderosas ferramentas à disposição dos seres humanos, e que tem sido o motor da evolução da humanidade. “Mas o conhecimento nas mãos de poucos, em benefício de poucos, provoca mais e mais desigualdade. E não se constrói um grande país com tanta desigualdade. Foi por isso que investimos cada vez mais na educação, da creche à pós-graduação”, pontuou
Lula lembrou o aumento significativo no número de estudantes universitários durante seus dois mandatos como presidente, destacando a oportunidade proporcionada aos filhos dos trabalhadores para se tornarem doutores. Ele enfatizou que essa abertura ao ensino superior é essencial para construir um país mais desenvolvido e justo.
Ele lembrou que quando entrou na Presidência da República, em 2002 encontrou o país com 3,5 milhões de estudantes universitários e que, após seus dois primeiros mandatos, esse número cresceu para 8 milhões. “Demos aos filhos dos trabalhadores a oportunidade de se tornarem doutores. Porque é assim que se constrói um país mais desenvolvido e mais justo.”
Obscurantismo e negacionismo
Lula também aproveitou a oportunidade para abordar questões políticas, criticando o negacionismo que marcou o governo anterior, sem mencionar o nome de Jair Bolsonaro. Segundo o presidente, “o tempo do obscurantismo ficou para trás”.
“Os últimos anos foram de ataques às universidades, à produção científica e à educação como um todo. Tempo de anticiência, do obscurantismo. Felizmente, esse tempo ficou para trás”, disse Lula na agenda. “O Brasil reúne hoje as vocações naturais, o conhecimento científico, a infraestrutura energética e a experiência produtiva para ser a grande potência sustentável do século XXI e liderar o combate à mudança do clima.”
“Os negacionistas de sempre dirão que isso não passa de um sonho. Mas, para mim, o sonho é apenas a realidade que ainda não aconteceu, mas vai acontecer, a depender dos esforços que fizermos daqui para frente.”
No discurso, o presidente ainda exaltou a democracia e lembrou do primeiro comício pelas “Diretas Já”, movimento que cobrou a volta das eleições diretas no Brasil. “A democracia não está pronta em lugar nenhum. Ela tem que ser construída a cada minuto, a cada hora, a cada gesto. Por isso estou muito feliz em ter o companheiro Alckmin como meu vice”, disse. Lula e Alckmin eram adversários históricos.
O presidente ainda destacou que anunciará medidas para a educação nesta sexta-feira (26), ao lado do ministro da Educação, Camilo Santana, em evento no Palácio do Planalto. “Será uma explicação sobre a educação brasileira”, disse Lula. “Vamos fazer uma apresentação de como encontramos a educação, a ciência, e as universidades, o que já fizemos e vamos falar sobre o que está programado fazer a partir desse ano”, completou.
Segundo Lula, o objetivo é oferecer no Brasil a oportunidade para que os meninos possam virar “gênios” e o país não perca mais esses alunos para o exterior.
Ele concluiu seu discurso celebrando a retomada da relevância do Brasil no cenário internacional e destacou sua próxima agenda internacional, com viagens à África e à Guiana.
O presidente encerrou sua participação reiterando a importância da cooperação e da construção de um país mais justo e desenvolvido, expressando otimismo em relação ao futuro.
Homenagens aos parceiros
A cerimônia também contou com a participação da Orquestra Sinfônica da USP (Osusp), que realizou um concerto marcante para iniciar as comemorações. Além disso, foi inaugurada uma exposição e realizada a entrega da Medalha Armando de Salles Oliveira a personalidades e entidades que contribuíram significativamente para a parceria com a USP ao longo dos anos.
Lula foi um dos homenageados com a medalha, assim como a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e outros.
Lula foi aplaudido ao subir ao palco para receber a Medalha Armando de Salles Oliveira aos gritos de “olé, olé, olé, lá, Lula, Lula”. Ele e Alckmin estavam acompanhados da primeira e da segunda-dama, Janja e Lu Alckmin, respectivamente.
* Vermelho