Fazenda Annoni: ocupação que marca história do MST desafia ‘berço da soja’ com cooperativismo e produção diversificada de alimentos no RS

Fazenda Annoni: ocupação que marca história do MST desafia ‘berço da soja’ com cooperativismo e produção diversificada de alimentos no RS

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Área de latifúndio desapropriado ainda na ditadura militar hoje abriga sete assentamentos e 423 famílias.

A luz da lua cheia permite ver no breu sem uso de lanterna ou qualquer iluminação artificial. Era do que precisavam as 1,5 mil famílias sem-terra na madrugada de 29 de outubro de 1985 para se agrupar silenciosamente na estrada, despistando a polícia, cortar as cercas, derrubar a porteira e ocupar a disputada fazenda Annoni, em Sarandi, no norte do Rio Grande do Sul (RS).

Dentro do terreno, tudo era capim, algumas cabeças de gado e equipamentos abandonados. Os planos de ocupação haviam iniciado dois anos antes e possibilitaram reunir sete mil pessoas de 33 municípios vizinhos. Cerca de 150 ônibus e caminhões foram mobilizados.

Não houve repressão policial que pudesse com tamanha massa de gente. As autoridades foram forçadas a negociar. Um longo período de resistência se seguiu até que todas as famílias fossem assentadas, em 1993. Na fazenda Annoni, permaneceram 423, organizadas em sete assentamentos equipados com escolas, ginásios, igrejas, espaços de lazer, energia elétrica, água encanada e saneamento básico.

Após décadas de luta e aposta no trabalho coletivo, a área de 9,3 mil hectares destoa de seu entorno no noroeste gaúcho, região de campos infinitos de soja, ao produzir diversidade de alimentos e iniciar experimentos para produzir soja não-transgênica e orgânica.

Naquela que é considerada a primeira ocupação de terra na história do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a vida mudou radicalmente, é confortável. As famílias sem-terra de outrora hoje se orgulham de serem produtores respeitados na região. Se é possível apontar alguma frustração, é que o socialismo sonhado, a transformação não só da própria vida, mas da sociedade, ainda não chegou.

*Com B&F

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