‘Dentro de 15 anos’: previsão de Milei sobre resultados econômicos causa polêmica na Argentina

‘Dentro de 15 anos’: previsão de Milei sobre resultados econômicos causa polêmica na Argentina

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Presidente de extrema direita prometeu que, uma vez aplicado pacote de medidas neoliberais, economia do país será como a da Irlanda, mas que principais resultados ‘serão visíveis em um terço desse prazo’.

Uma entrevista realizada por uma rádio de Buenos Aires nesta quinta-feira (04/01) com o presidente da Argentina, Javier Milei, causou grande impacto na opinião pública devido à previsão feita pelo mandatário sobre quando seu projeto econômico começará a mostrar resultados visíveis no nível de vida da população.

Em conversa com a Rádio Delta, Milei prometeu que seu Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), um pacote com centenas de medidas neoliberais anunciado há duas semanas, visa transformar a economia da Argentina para que o país tenha um PIB per capita como o da Irlanda.

O entrevistador questiona essa declaração dizendo que “quando eu escuto você dizer que dentro de 45 anos seremos como a Irlanda, muita gente, entre as quais eu me incluo porque tenho 56 (anos), ouve isso e diz ‘isso quer dizer que eu não vou ver a Argentina florescer’”.

Diante desse questionamento, o presidente de extrema direita afirmou que “então eu tenho uma boa notícia para você: nos processos de convergência, dois terços da melhor acontecem no primeiro terço, ou seja, dois terços das melhoras você vai poder ver em 15 anos, então você vai poder ver, e os seus filhos e netos poderão viver maravilhosamente bem”.

Por essa projeção, o PIB per capita da Argentina seria equiparável ao da Irlanda em 2069, mas as melhorias nas condições de vida das pessoas seriam perceptíveis a partir de 2039.

Diferença entre PIB e PIB per capita
Outro fator interessante da promessa de Milei é a utilização do PIB per capita como referência para medir a saúde da economia e seu reflexo no padrão de vida das pessoas.

O que se conhece como PIB per capita é um indicador que toma como base o Produto Interno Bruto (PIB) e sugere um valor a partir de uma hipotética divisão por igual desse PIB entre todos os habitantes do país.

Efetivamente, a Irlanda apresenta um PIB per capita de US$ 101,4 mil, segundo dados de 2022 do Fundo Monetário Internacional (FMI) – ou seja, cada cidadão irlandês teria 100 mil dólares se tudo o que foi produzido naquele ano fosse dividido igualmente. Na Argentina, naquele mesmo ano e também segundo o FMI, o PIB per capita foi de US$ 13,6 mil dólares.

Porém, se compararmos o PIB, a soma de todos os bens e serviços finais produzidos pelo, também tomando o ano de 2022 e o FMI como base, a Irlanda apresenta US$ 519 bilhões e é superada pela Argentina, que produziu US$ 630 bilhões no mesmo período.

iferença disso no resultado do PIB per capita pode ser explicada pelo fato de que a Argentina é um país com 46 milhões de habitantes, enquanto a Irlanda tem apenas 5 milhões, mas alguns economistas contestam a validez do PIB per capita como índice adequado para medir a robustez de uma economia.

Reação negativa
A declaração teve uma grande difusão nas redes sociais, onde despertou várias críticas de alguns líderes de setores opositores.

O governador da Província de Buenos Aires, Axel Kicillof, um dos principais referentes do kirchnerismo – linha do peronismo mais à esquerda, liderada pela ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015) –, ironizou a fala de Milei, também em declaração à imprensa local: “15 anos? Como dizia Keynes, o que sabemos das estatísticas a longo prazo é que até lá estaremos todos mortos”.

No entanto, é importante destacar que a previsão de Milei vale a partir da aplicação do seu DNU, que vem sofrendo forte resistência por parte da cidadania, com diversas manifestações já realizadas no final de 2023 e a convocação de uma greve geral, programada para o dia 24 de janeiro, contra a iniciativa.

Além disso, o governo de extrema direita também sofreu uma derrota na Justiça nesta quarta-feira (03/01), quando a Câmara Nacional do Trabalho da Argentina emitiu uma medida cautelar suspendendo a aplicação das medidas do DNU referentes à reforma trabalhista.

*Victor Farinelli/Opera Mundi

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