O presidente da Guiana, Irfaan Ali, afirmou neste domingo que seu país não tinha “nada a temer” em relação ao referendo convocado pela Venezuela para reforçar a reivindicação centenária de soberania sobre a região de Essequibo, rica em petróleo. Em transmissão ao vivo nas redes sociais, ele disse que as autoridades estão trabalhando “incansavelmente” para garantir que as fronteiras “permaneçam intactas”.
— Quero garantir aos guianenses que não há nada a temer nas próximas horas, dias, meses — declarou. — Estaremos vigilantes, mas estamos trabalhando incansavelmente para garantir que nossas fronteiras permaneçam intactas, e que nossa população e país continuem seguros.
A Venezuela realiza um referendo consultivo, não vinculativo, no qual o governo busca reafirmar a reivindicação sobre o território de 160 mil km², atualmente sob controle da Guiana. Milhares de guianenses formaram correntes humanas, chamadas de “círculos de união”, para mostrar seu vínculo com Essequibo. Muitos vestiam camisetas com frases como “Essequibo pertence à Guiana” e agitavam bandeiras do país.
A Venezuela argumenta que o rio Essequibo é a fronteira natural, como foi em 1777, quando era a Capitania Geral do Império Espanhol. O país apela ao Acordo de Genebra, assinado em 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido. Esse documento anulou um laudo de 1899 que definia os limites defendidos pela Guiana e pedia à Corte Internacional de Justiça (CIJ), principal tribunal das Nações Unidas, que o ratificasse.
— Sempre vimos a diplomacia como nossa primeira linha de defesa e estamos em uma posição muito forte nela — afirmou Ali, citando o apoio internacional que diz ter recebido em relação a essa controvérsia.
O Guiana solicitou à CIJ a suspensão do referendo, que inclui entre as cinco perguntas feitas à população uma sobre se os civis concordam com a criação de uma província venezuelana chamada “Guiana Essequiba” e conceder nacionalidade aos seus habitantes. Ali disse que não iria “se intrometer” na política da Venezuela, mas pontuou que “é uma oportunidade para [o país] mostrar maturidade e responsabilidade”.
A reivindicação da Venezuela se intensificou desde que a gigante energética ExxonMobil descobriu petróleo em águas disputadas em 2015. Essa área possui reservas de petróleo comparáveis às do Kuwait e lidera a lista de reservas per capita do mundo.