Chamada Amaterasu em homenagem à deusa do sol na mitologia japonesa, partícula é a segunda mais ‘potente’ já analisada em três décadas.
Em 1991, um experimento da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, detectou o raio cósmico de maior energia já observado até hoje. De acordo com a instituição, nada em nossa galáxia tinha o poder de produzi-lo, e a partícula tinha mais energia do que era teoricamente possível para raios que viajassem para a Terra de outras galáxias. Ou seja: a partícula não deveria existir.
Desde então, o Telescope Array (uma colaboração internacional que envolve instituições de pesquisa no Japão, EUA, Rússia, Coreia do Sul e Bélgica) observou mais de 30 raios cósmicos de alta energia. Nenhum deles, porém, se aproximou daquele visto na década de 1990, apelidado de Oh-My-God. O fenômeno carregava a energia de 240 quintilhões de elétron-volts (enquanto um raio típico tem cerca de 300 milhões), segundo O Globo.
— As partículas têm energia tão alta que não deveriam ser afetadas por campos magnéticos galácticos e extragalácticos. Você deveria ser capaz de apontar de onde elas vêm no céu — afirmou John Matthews, co-porta-voz do Telescope Array e coautor do estudo. — Mas no caso da partícula Oh-My-God e desta nova descoberta, você traça a sua trajetória até a fonte e não há nada com energia suficiente para tê-la produzido.
Ainda não há indícios que revelem a origem desses raios cósmicos, ou mesmo como eles conseguem viajar até a Terra, segundo a Universidade de Utah. Em meio a este “mistério”, outro raio cósmico com “extrema energia” foi detectado. Descoberto em 2021, o anúncio foi publicado somente nesta quinta-feira na revista Science. Segundo os pesquisadores, esta última partícula é segunda mais “potente” já analisada.
Chamado Amaterasu em homenagem à deusa do sol na mitologia japonesa, este último raio cósmico foi detectado pelo sistema de telescópios de Utah. Cientistas o descreveram como “sem precedentes” nos tempos modernos. De acordo com o estudo publicado pelos especialistas, sua direção de partida parecia ser do Vazio Local, uma área vazia do espaço que faz “fronteira” com a Via Láctea.
— Esses eventos parecem estar vindo de lugares completamente diferentes no céu. Não é como se houvesse uma única fonte misteriosa — disse John Belz, professor e coautor do estudo. —Poderiam ser defeitos na estrutura do espaço-tempo, cordas cósmicas colidindo. Estou apenas jogando ideias malucas que as pessoas estão propondo porque não há uma explicação convencional.
O que são raios cósmicos?
Raios cósmicos são partículas de alta energia que viajam pelo espaço a velocidades próximas à da luz. Segundo a Universidade de Utah, eles são “partículas carregadas com uma ampla gama de energias”, incluindo átomos, prótons, elétrons e núcleos atômicos que se movem em alta velocidade por meio dos cosmos.
Essas partículas são originadas de fontes cósmicas, como supernovas, estrelas de nêutrons, buracos negros e outros eventos no universo. Segundo publicação da Universidade de São Paulo (USP), ao chegarem à Terra, esses raios colidem com os núcleos dos átomos da atmosfera e são desintegrados, dando origem a outras partículas e formando “chuveiros” de radiação.
— Há quase um século já se tinha uma boa ideia do que eram essas partículas — disse o professor João Steiner (1950-2020), do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, ao Jornal da USP. — Essas partículas têm vários tipos de origens. Os de mais baixa energia provém do sol. Em geral, não chamamos mais essas partículas de raios cósmicos, e sim de ‘vento solar’.