Uma certeza: sem maioria no Congresso Nacional, Milei não poderá governar sozinho com A Liberdade Avança. Maurício Macri tem seu trunfo.
A mudança de estratégia do presidente eleito Javier Milei para o segundo turno, na Argentina, depois de ter visto sua votação no primeiro turno cambalear, em comparação com as primárias, revelou-se surpreendentemente bem sucedida, mas lançou o país em uma jornada rumo ao imprevisível.
Ocorre que a Argentina, que terá o novo presidente empossado no próximo dia 10 de dezembro, agora está à mercê de um político neoliberal, no caso do presidente eleito, ultraliberal, que se elegeu com um discurso antidemocrático, antiestado e apinhado da verve conservadora negacionista e intolerante que reacende a chama do fascismo em todo o mundo.
Conforme o esperado, o atual governo respeitou a vontade popular – Milei ameaçava não reconhecer o resultado eleitoral, mas a vitória parece que o demoveu da ideia. O presidente Alberto Fernández recebeu nesta segunda-feira (21) o novo mandatário para iniciar a transição entre os governos.
Para a América Latina, junto com a vitória de Daniel Novoa no Equador, eleito também este mês, representa um importante sinal do regresso do pêndulo a um possível novo ciclo de direita, ostensivamente mais radicalizado que o anterior, envolvendo grupos de seguidores dispostos a tudo por seus líderes.
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Nestas 48 horas após a divulgação do resultado eleitoral, o noticiário argentino tem se dividido entre mostrar as primeiras medidas e movimentos do presidente eleito ao mesmo tempo em que, por todo o país, as pessoas tentam entender o que pode acontecer a partir de agora.
Milei já anunciou privatizações nas comunicações e indústria petrolífera, prometeu ao jornalista “Bertie” Benegas Lynch que revogará a Lei do Aborto e praticamente já nomeou todos os ministros do seu governo, um total de oito, sendo que a vice-presidente Victoria Villarruel será também a ministra da Defesa – ela é filha de um ex-torturador e advogada negacionista defensora de criminosos da Ditadura Militar (1976-1983).
Feministas, comunidade LGBTQIA+, grupos de esquerda, imigrantes e organizações como a Associação Civil Avós da Praça de Maio (Abuelas de Plaza de Mayo), voltadas à Justiça de Transição, reparação e não repetição dos crimes da ditadura, além da busca pelo paradeiro de mortos e desaparecidos políticos, temem uma profunda retração em suas conquistas e pautas com medidas que devem ser adotadas em breve.
*Renato Santana/GGN