O apoio do Irã ao Hamas no atual conflito contra Israel, no Oriente Médio, não deve passar da retórica, de acordo com o geógrafo Jorge Mortean, mestre em estudos regionais do Oriente Médio pela Escola de Relações Internacionais do Ministério de Relações Exteriores do Irã e doutorando em geografia humana pela Universidade de São Paulo (USP).
Mortean participou da mais recente edição do podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, desta terça-feira (7).
Apesar da capacidade de combate do Irã, uma participação militar no conflito em favor da Palestina “é muito improvável”, afirmou ele. Um dos motivos, é o sucateamento das Forças Armadas iranianas.
“São equipamentos da época da revolução, ou seja, de mais de 40 anos. Apesar deles serem numerosos, o poder de fogo é bem baixo, perto de toda a tecnologia bélica de Israel e dos Estados Unidos, que já aportaram dois navios porta-aviões ali na região, caso o conflito venha escalonar não por parte israelense”, comentou.
Além disso, destacou o professor, o governo iraniano não teria nada a ganhar entrando mais diretamente no conflito, pelo contrário, poderia piorar a já debilitada situação financeira devido às sanções econômicas e a intensa crise política no cenário doméstico.
Caso entrasse em uma ofensiva militar contra Israel, o Irã teria que depender da ajuda russa, de acordo com Mortean, o que exigiria de Moscou abrir outra frente de batalha, além da já existente contra a Ucrânia.
Para o professor, que também é e doutorando em Geografia Humana pela USP, Irã e Israel cooperam e se ameaçam por debaixo dos panos, desde a revolução iraniana.
“Dentro desse xadrez geopolítico, com relação ao uso de forças pelo lado iraniano, ele não só comprometeria a segurança nacional e regional, como a própria estabilidade do regime. Nem na própria guerra do Iraque, quando o mundo pensou que todos os árabes se uniriam contra o Irã, houve essa tomada de lados”, argumentou.