O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, usou as redes sociais para ressaltar que nenhum representante de governo estrangeiro “pode pretender antecipar resultado de investigação conduzida pela Polícia Federal”. Deflagrada nesta quarta-feira pela PF para “prevenir atos terroristas” no país, a Operação Trapiche contou com a cooperação do Mossad, a agência de espionagem internacional de Israel, que forneceu informações sobre a movimentação de pessoas ligadas ao grupo Hezbollah no Brasil.
Foi o gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, quem informou pelas redes sociais que a agência israelense havia contribuído com as investigações da PF.
“As forças de segurança segurança brasileiras, juntamente com o Mossad e os seus parceiros (…) e outras agências de segurança internacionais, frustraram um ataque terrorista no Brasil, planejado pela organização terrorista Hezbollah, dirigida e financiada pelo Irã”, diz a publicação do premier de Israel.
Também nesta quarta, o embaixador de Israel em Brasília, Daniel Zonshine, afirmou ao jornal O GLOBO que o Hezbollah planejou um ataque terrorista a entidades judaicas e sinagogas em território brasileiro, por contar com apoiadores no país. Zonshine citou como exemplo a tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai onde, segundo ele, há fugitivos do Oriente Médio e pessoas que apoiam financeiramente as atividades do grupo militante libanês.
Pelo Twitter, Dino destacou que o Brasil é um país soberano e que as investigação ainda estão em andamento.
“Quem faz análise da plausibilidade de indícios que constam de relatórios internacionais são os delegados da Polícia Federal, que submetem pedidos ao nosso Poder Judiciário. Os mandados cumpridos ontem, sobre possível caso de terrorismo, derivaram de decisões do Poder Judiciário do Brasil. Se indícios existem, é DEVER da Polícia Federal investigar, para CONFIRMAR OU NÃO as hipóteses investigativas”, ressaltou o ministro.
Dino também destacou que a conduta da Polícia Federal decorre das leis brasileiras e “nada tem a ver” com conflitos internacionais, em referência implícita aos embates entre Israel com vizinhos do Oriente Médio, que se agravaram desde os ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro.
“Não cabe à Polícia Federal analisar temas de política externa. As investigações da Polícia Federal começaram ANTES da deflagração das tragédias em curso na cena internacional. Apreciamos a cooperação internacional cabível, mas repelimos que qualquer autoridade estrangeira cogite dirigir os órgãos policiais brasileiros, ou usar investigações que nos cabem para fins de propaganda de seus interesses políticos”, acrescentou o ministro.
Segundo Dino, a Polícia Federal apresentará ao Poder Judiciário do Brasil, quando oportuno os resultados “da investigação técnica, isenta e com apoio em provas analisadas EXCLUSIVAMENTE pelas autoridades brasileiras”. Veja, abaixo, a postagem completa do ministro.
https://twitter.com/FlavioDino/status/1722567020938448976?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1722567020938448976%7Ctwgr%5E9af24f44842b16fb42c03aa79a7bb744a545443f%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.agendadopoder.com.br%2Fo-brasil-e-um-pais-soberano-nenhuma-forca-estrangeira-manda-na-pf-diz-dino-apos-premier-de-israel-citar-ajuda-do-mossad-em-operacao-contra-o-hezbollah%2F
O Mossad é a agência de inteligência internacional de Israel e é responsável por coordenar operações fora do país. Entre os objetivos da organização estão garantir a segurança do país e de seus cidadãos, evitar que inimigos adquiram ou desenvolvam armas não-convencionais e prevenir ataques terroristas.
Entre os episódios mais famosos vinculados a agentes do Mossad está a “Operação Cólera de Deus”. Dois episódios do documentário “O mundo da espionagem”, na Netflix, detalham a missão. Ela serviu para vingar a morte de 11 atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique.
Em 1972, as delegações ficaram em vilas quase sem segurança, graças à crença das autoridades de que não havia riscos. Porém, os apartamentos foram atacados e 11 israelenses, sequestrados. Tudo terminou em tragédia, depois de um plano desastrado das forças alemãs, que recusaram a oferta de colaboração de Israel. Nos anos seguintes, o Mossad executou vários dos envolvidos no atentado.
Em 1965, a agência também teve destaque no noticiário policial depois que o egípcio Eli Cohen foi descoberto e morto ao se infiltrar na cúpula militar da Síria.
Ainda de acordo com a publicação do premier de Israel, “esta era uma rede extensa que operava em outros países” e os alvos eram “israelenses e judeus no Brasil”.
“Tendo como pano de fundo a guerra em Gaza contra a organização terrorista Hamas, o Hezbollah e o regime iraniano continuam a operar em todo o mundo para atacar alvos israelitas, judeus e ocidentais. A Mossad está trabalhando, e continuará a trabalhar, para frustrar estes esforços sempre que necessário, através de vários métodos”, escreveu o premiê de Israel.
Dois homens foram presos e 11 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal. Os alvos serão ouvidos pela PF nesta tarde. Um deles havia acabado de desembarcar no Brasil vindo de um voo do Líbano, onde fica a sede do Hezbollah.
Os investigadores suspeitam que os homens foram aliciados e financiados pelo grupo militante Hezbollah. A PF apurou que eles estavam tirando fotos de locais que poderiam virar alvos de ataques, como sinagogas e centros judaicos.
Outros 11 mandados de buscas e apreensão foram cumpridos em São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal. Nesses endereços, a PF apreendeu aparelhos celulares, dinheiro e documentos.
Os dois presos têm nacionalidade brasileira. Há ainda dois mandados de prisão em aberto contra dois brasileiros que estariam no Líbano. A PF inseriu o nome deles na difusão vermelha da Interpol.
Batizada de operação Trapiche, a operação tem como alvo um grupo que teria o objetivo de promover “atos preparatórios de terrorismo”, segundo a nota da corporação. Os suspeitos devem responder pelos crimes de constituir ou integrar organização terrorista e de realizar atos preparatórios de terrorismo. As penas máximas chegam a 15 anos e 6 meses de reclusão.
Os mandados foram expedidos pela Justiça Federal de Minas Gerais e a investigação é conduzida pela Diretoria de Inteligência Policial da PF.