Com o sistema de monitoramento First Mile, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitorou alvos em bairros ricos do Rio de Janeiro e de Brasília durante as eleições municipais de 2020, o que reforça a suspeita da Polícia Federal (PF) de uso político e ilegal da ferramenta.
A Polícia Federal descobriu que o programa foi usado para monitorar alvos em bairros nobres do Rio de Janeiro durante a eleição de 2020 e também em mansões do Lago Sul, região rica de Brasília (DF).
Os investigadores estão fazendo um levantamento de quem são os titulares dos celulares monitorados, mas já confirmaram que constam na lista de alvos nomes de políticos, jornalistas, advogados e até professores universitários vistos como opositores de Jair Bolsonaro, diz Guilherme Amado, Metrópoles.
As máquinas da Abin em que era usado o sistema foram formatadas, mas a PF já conseguiu restaurar um backup e descobriu que foi usado um software para apagar os dados dos monitoramentos.
Segundo integrantes da PF, em várias ocasiões, a Abin negou pedidos de acesso aos arquivos e às máquinas em que era usado o First Mile. Há uma suspeita de que a cúpula da agência atuou para obstruir a investigação.
Houve 30 mil monitoramentos, mas a agência forneceu ao STF dados de apenas 1,8 mil antes das buscas. Além disso, a Abin não informou os nomes dos alvos monitorados, alegando não deter essa informação. Informou quais servidores usavam as máquinas, mas não disse qual usuário no sistema correspondia a cada servidor, segundo os investigadores.
Na Abin, por outro lado, a versão é de que a agência colaborou com a investigação e respondeu aos ofícios e que, portanto, não há justificativa para a busca e apreensão realizada na sexta-feira passada (20/10).