Um cheque no valor de R$ 200 mil usado pelo atual senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) para a compra de um andar inteiro com 12 lojas comerciais, na Barra da Tijuca, na época das investigações realizadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, vem à tona reforçando as suspeitas do esquema de rachadinhas levantado pelos promotores.
Ao acusar o senador Flávio Bolsonaro, em 2020, pelo esquema das rachadinhas, o Ministério Público do Rio de Janeiro listou algumas transações imobiliárias feitas pelo ex-deputado com dinheiro de origem suspeita – quase sempre os pagamentos eram feitos em espécie, cheques de terceiros ou por meio de boletos que nunca eram descontados da conta pessoal dele.
Segundo informações do colunista Ricardo Rangel, do Metrópoles, uma dessas transações envolve a aquisição de um andar inteiro em um dos prédios comerciais mais cobiçados da Barra da Tijuca, na zona oeste carioca. O filho 01 de Bolsonaro comprou, de uma só tacada, doze salas do edifício Barra Prime Offices ainda na fase de lançamento. O negócio foi realizado em 2008.
Na denúncia, o MP apontou que, em cerca de um ano, o senador fez pagamentos relacionados à aquisição do imóvel que somaram R$ 297 mil. Nada, porém, saiu da conta dele. Foram R$ 86,5 mil em depósitos de dinheiro vivo, R$ 193,6 mil em boletos e R$ 16,8 mil em cheques. Ao todo, o negócio girou em torno de R$ 3 milhões.
Mais adiante, Flávio Bolsonaro vendeu as salas que havia adquirido ainda na planta por valor bem maior. Para os promotores, foi uma operação destinada a esquentar recursos obtidos de maneira ilícita. Lavagem de dinheiro, disseram na ocasião.
O senador nunca deu maiores explicações sobre a compra das salas. À época da denúncia, ele se limitou a criticar o trabalho do Ministério Público, dizendo haver “vícios processuais, enganos e erros de cálculo” na peça de acusação, que depois acabaria arquivada – não por falta de evidências, mas porque as fartas provas foram anuladas por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), sob o argumento de que, em razão do foro privilegiado de Flávio Bolsonaro, a investigação não poderia ter corrido na primeira instância da Justiça do Rio.
Como a negociação das salas foi feita diretamente com os representantes da construtora, a aquisição milionária feita por Flávio Bolsonaro não constava de registros públicos. Quem fizesse uma pesquisa de cartório, por exemplo, jamais descobriria que era ele o dono das salas. Além disso, os pagamentos feitos em espécie e via boletos também contribuíam para que não houvesse rastros.