Desde domingo (10), o Brasil está na presidência temporária do G20. Para ir além do simbolismo do posto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já começa a pautar temas que, a seu ver, precisam estar no centro da agenda do bloco. Ao lado dos temas, sobressai um desafio: mudar a correlação de forças dos órgãos multilaterais.
O discurso de Lula na Cúpula do G77 + China, neste sábado (16), em Havana (Cuba), foi pontuado por críticas ao bloqueio dos Estados Unidos a Cuba e por ataques ao monopólio das “big techs”, as gigantes da tecnologia, como o Google e o Facebook. Mas o brasileiro também sinalizou as preocupações que o País quer frisar desde que “o Brasil voltou”, deixando para trás o governo de destruição de Jair Bolsonaro (PL), considerado um pária internacional.
Já na saudação ao presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, Lula lembrou que “Cuba tem sido defensora de uma governança global mais justa – e até hoje é vítima de um embargo econômico ilegal”. Ao condenar o bloqueio, Lula generalizou: “O Brasil é contra qualquer medida coercitiva de caráter unilateral”.
O desafio proposto por Lula é democratizar as decisões de alcance global, valorizando o peso dos países em desenvolvimento. “A governança mundial segue assimétrica. A ONU (Organização das Nações Unidas), o sistema Bretton Woods e a OMC (Organização Mundial do Comércio) estão perdendo credibilidade. Não podemos nos dividir”, exortou.
Lula mira abertamente “uma visão comum que leve em consideração as preocupações dos países de renda baixa e média e de outros grupos mais vulneráveis”. Daí seu elogio “à abrangência e à diversidade do G77”, que conta com 79% da população mundial e 49% do PIB global em paridade do poder de compra. Na visão do governo brasileiro, “o G77 foi fundamental para expor as anomalias do comércio global e para defender a construção de uma Nova Ordem Econômica Internacional”.
Com relação aos temas, Lula afirmou que a revolução digital e a transição energética são as “duas grandes transformações em curso”. Por isso, “elas não podem ser moldadas por um punhado de economias ricas, reeditando a relação de dependência entre centro e periferia”. No caso do mundo digital, Lula ressaltou os “efeitos colaterais ameaçadores”. No caso da energia, lembrou que “a transição justa traz oportunidades”, desde que mantido “o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas”.
Os Brics têm falado em Sul Global para destacar o eixo prioritário de sua atuação. Neste sábado, Lula agregou: “Os países do Sul têm plenas condições de ocupar a vanguarda da ciência, tecnologia e inovação. Para isso, precisamos voltar a agir juntos, como fizemos no passado”. Esta é a base para uma nova “visão de desenvolvimento”. Aonde Lula for, a luta em defesa do Sul Global será prioridade.
* Vermelho