O jornalista Reinaldo Azevedo publicou um artigo em sua coluna no Uol, comentando as recentes notícias acerca do crescimento de 0,9% do PIB do Brasil já no início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Azevedo também discorreu a respeito das projeções pessimistas que erraram em suas estimativas sobre a economia brasileira e de como Lula acertou em sua previsão feita anteriormente. Confira trechos:
Huuummm… Não é que a economia no segundo trimestre tenha avançado, sei lá, um tantinho a mais do que SE esperava na comparação com o trimestre anterior… Deu o triplo: apostava-se em 0,3%, e o IBGE aponta 0,9%. Em relação a igual período do ano passado, chega-se a 3,4%. Notaram ali, em negrito, os “SES”? Voltarei a eles. Quase todo mundo errou. Lula acertou.
(…)Quando se vai para o detalhe, constata-se que o consumo das famílias e o do governo contribuiu de forma importante para o nível de atividade. No primeiro caso, mais 0,9%; no segundo, 0,7%. Já a formação bruta de capital cresceu apenas 0,1%, depois de ter caído 3,4% no primeiro trimestre. Os juros reais pornográficos continuam a pesar. Inquestionável: se o governo tivesse seguido a receitinha dos nossos falsos “liberais” — com sua tara para arrochar os pobres e cortar gastos públicos –, é evidente que não se teria colhido esse resultado.O governo vive sob marcação cerrada, com os “especialistas” nos próprios interesses a ditar o seu receituário, reproduzido bovinamente pelo jornalismo econômico — que não se cansa de divulgar as projeções que depois são desmoralizadas pela realidade. Querem ver? Os mantras da hora, repetidos nesta sexta por Arthur Lira, presidente da Câmara, em papinho com o mercado financeiro, é tirar da gaveta a reforma administrativa — “contra os gastos” — e impedir o aumento dos impostos. Nesse segundo caso, leia-se: impedir a taxação de offshores e dos fundos exclusivos.
Pode-se dizer de outra maneira: enquanto o Congresso ataca a receita, estendendo a vigência da desoneração da folha de pagamentos e ampliando a mamata para municípios, Lira, o imperador, anuncia aos super-ricos: “Se depender de mim, vocês continuarão a mamar leite de pata”. Traduza-se: impede-se o governo de obter a receita necessária para tentar o déficit zero no ano que vem e se tonitrua: “Queremos cortar despesas!” Quais? Ora, aquelas que atendem aos pobres e que são um dos motores do “PIB surpreendente”. Quando Haddad, nesse contexto, fala em déficit zero e lembra as possibilidades de conseguir receita, recebe como resposta de alguns setores, inclusive do jornalismo, um misto de ironia e deboche: é o chamado “tersitismo”, de que tratei na minha coluna na Folha desta sexta.
Desde logo, acho que a imprensa profissional precisa dar um cavalo de pau na sua cobertura de economia. Que tal começar por trocar as fontes? Em vez de especuladores, com seus chutes interessados, talvez fosse o caso de começar a ouvir economistas respeitados da academia que não estão alavancados em nada. Ou o que se faz é enganar leitores, telespectadores, ouvintes e internautas. Ou vamos nos conformar com esse papo de “PIB surpreende”? Surpreende, vamos ser francos, os que caíram na conversa de especuladores ou adotam o erro de quem opera com modelos ineficazes. E nem me refiro, necessariamente, às projeções que destaquei acima. Essas já estavam corrigidas pelo PIB também “surpreendente” do primeiro trimestre. (…)
Ah, sim: numa entrevista a uma rádio de Goiás no dia 15 de junho, há dois meses e meio, o presidente Lula afirmou:
Nós vamos crescer acima do 0,9% [como diz o FMI]. Vamos crescer entre 2% e 2,5% e possivelmente até mais. Vou mostrar que o PIB cresceu, a economia vai estar estável”.
Não é que Lula acertou, e os que zombaram de suas previsões estavam errados? É claro que ele fazia política. Seu papel, por óbvio, não é ficar exercitando pessimismo. E os que agora são desmoralizados estavam fazendo o quê? Ora, política também.