Seis horas de depoimento na PF. Aí tem coisa.
Ex-ajudante de Bolsonaro depõe no caso da invasão do hacker Walter Delgatti aos sistemas do Judiciário.
Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid ficou nesta sexta-feira por cerca de 6 horas na sede da Polícia Federal, em Brasília. Ele foi intimado a depor no âmbito do inquérito que investiga o hacker Walter Delgatti por invasão aos sistemas do Poder Judiciário e por um suposto plano para descredibilizar as urnas eletrônicas, segundo Eduardo Gonçalves, O Globo.
O militar chegou à Superintendência da PF às 14h e saiu às 20h15. Segundo o advogado Cezar Bitencourt, o depoimento de Cid durou duas horas.
Bitencourt reclamou que um problema técnico no sistema de informática da PF o impediu de ter acesso aos autos. Esse seria, segundo o defensor, o motivo da demora. O advogado não quis falar sobre o teor do depoimento dado por Cid.
— Ele falou sobre os fatos — afirmou, sem dizer quais foram os fatos relatados.
Esta é a primeira vez que o tenente-coronel depõe à PF após ele trocar de advogado pela terceira vez. Logo que assumiu a defesa, Bitencourt afirmou que Cid atribuiria a Bolsonaro a ordem para a venda de um relógio Rolex recebido em uma viagem oficial.
Em relação ao caso do ataque hacker ao sistema da Justiça, há suspeitas de que o militar tenha presenciado a conversa de Delgatti com o ex-presidente no Palácio da Alvorada, em agosto de 2022. Preso desde o início de agosto, Delgatti relatou esse episódio à PF.
Em seu depoimento, o chamado “hacker da Vaza Jato” contou que foi contratado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP) para tentar levantar vulnerabilidades no sistema eleitoral do país. A parlamentar teria o levado à reunião com Bolsonaro, que não consta na agenda oficial do Planalto. Conforme a versão de Delgatti, o ex-presidente lhe perguntou se era possível invadir as urnas. O plano não avançou.
Mauro Cid está preso há 115 dias no Batalhão de Polícia do Exército de Brasília. Ele foi preso preventivamente em uma operação da Polícia Federal que investiga o militar por fraudes no Sistema Único de Saúde (SUS) para emitir certificados de vacinação contra a Covid-19.
A prisão foi determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que teve uma rápida reunião nesta quinta-feira com o novo advogado Cezar Bitencourt. Ao GLOBO, o criminalista contou que o objetivo do encontro era se apresentar e “se colocar à disposição da Corte”.
— Pretendo agendar um encontro com o ministro para me apresentar como novo advogado do tenente-coronel Mauro Cid e demonstrar a boa vontade do meu cliente em relação às investigações da Polícia Federal. Ele terá uma postura
colaborativa, mas tome cuidado com essa palavra. Não podemos confundir isso com a intenção de realizar qualquer acordo de delação premiada, porque repito sempre que isso não está nos nossos planos — explicou ele, no último fim de semana.
Na semana passada, Bitencourt disse ao Globo que o militar pretendia prestar um novo depoimento assumindo as negociações para a revenda do relógio Rolex. Aos investigadores, o militar iria dizer que seguiu as determinações do então chefe e, inclusive, devolveu a ele em espécie o valor recebido pela joia, segundo o advogado.