Uma tentativa de condicionar entrevistas de diretores do Banco Central à aprovação prévia do presidente da instituição, Roberto Campos Neto, elevou a tensão na autarquia e ameaça deteriorar ainda mais a relação do governo Lula com o dirigente do BC, diz Mônica Bergamo, Folha.
A discussão de um documento interno que sugere que “assuntos afetos à comunicação com os órgãos de imprensa fiquem subordinados diretamente ao presidente do BC” voltou à pauta depois que Lula (PT) indicou o ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda Gabriel Galípolo para comandar a diretoria de política monetária do banco. E tem gerado discussões acaloradas na instituição.
A posição de Galípolo, alinhada com a do governo, é clara. Ele acha que já passou da hora de o BC baixar os juros e que a manutenção das taxas em níveis elevados poderá comprometer o crescimento do país de forma fatal.
Suas entrevistas, portanto, exporiam o racha que existe hoje na instituição, o que estaria pressionando e incomodando Campos Neto.
Como reação, o presidente do BC estaria tentando aplicar uma espécie de “lei da mordaça” em seus diretores.
A proposta já foi discutida, inclusive, com técnicos do banco, que tentam interditá-la afirmando que os diretores do BC têm mandato, independência e autonomia garantidos por lei, o que os deixaria livres para falar com os jornalistas que bem entendessem.
Campos não poderia vetar as conversas, já que não é o chefe dos diretores.
A única regra a ser seguida por eles é a que proíbe os diretores de se manifestarem na semana que antecede a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que define as taxas de juros, e também na posterior. Os encontros acontecem a cada 45 dias.
Eles também não podem tecer considerações sobre as taxas de juros.
Ainda que não possa falar diretamente sobre esse assunto agora que integra o BC, Galípolo tem feito declarações sobre índices econômicos e a legitimidade de Lula de criticar o Banco Central.
Ele já chegou a dizer que “não cabe a nenhum economista, por mais excelência que tenha, impor o que ele entende ser o destino econômico do país à revelia da vontade democrática”.