Familiares do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) utilizaram ao menos 70 voos da FAB (Força Aérea Brasília) sem a presença do então chefe do Executivo e aproveitaram para viajar levando convidados, como pastor, maquiador e até uma cachorra. As informações são do site Metrópoles.
Michelle Bolsonaro, então primeira-dama, foi quem mais utilizou os voos sem Bolsonaro. Segundo o levantamento do site, que afirma ter utilizado dados do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), foram 54 viagens. Geralmente, Michelle se deslocava de Brasília para o Rio de Janeiro, onde frequentava cultos evangélicos.
Uma mensagem publicada pela reportagem, datada de junho de 2019, mostra que em uma das viagens, a então primeira-dama iria “acompanhada de mais dez pessoas no voo de ida e de oito pessoas no voo de retorno a Brasília”. Michelle viajou com o pastor Francisco de Assis Lima Castelo Branco, na época sem cargo público, a esposa dele, um filho do casal e outra amiga.
Em outra ocasião, segundo a reportagem, ela visitou um centro de tratamento de câncer, em Barretos (SP), com seu maquiador, Agustin Fernandez.
Além do Rio, a então primeira-dama visitou também Belo Horizonte para uma festa do pastor Márcio Roberto Vieira Valadão, pai do também pastor André Valadão.
Depois de Michelle, quem mais demandava voos da FAB era o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), com ao menos 10 viagens registradas, de acordo com o Metrópoles. No ano passado, ele se deslocou para acompanhar o pai no 7 de setembro e foi de Brasília para o Rio durante as eleições. Em outro momento, viajou com um assessor que não tinha cargo público.
Jair Renan Bolsonaro realizou sete viagens desse tipo, uma delas em 2019 para ver a mãe em Resende (RJ) e depois retornar a Brasília. “Não se esqueçam do Renan”, alertou um militar em grupo do WhatsApp para organizar as viagens presidenciais, segundo o site.
“Filho do PR (Presidente da República) hehehe. Não tá fácil para ninguém”, responde outro enquanto eles tentavam encaixar Jair Renan em um voo do Rio para Brasília e já pensavam em planos alternativos, como recorrer a outros setores, para acomodar o filho de Bolsonaro.
Ainda segundo o Metrópoles, Beretta, cachorra de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), também viajou —o pedido foi feito pelo tenente-coronel Mauro Cid, atualmente preso por suposto envolvimento em fraudes de cartões de vacina. “Informei a ele que no último embarque a casinha de transporte não passa na porta, causando transtornos”, diz uma mensagem sobre a cachorra, o que indicaria que ela já havia voado mais de uma vez.
Preocupação com as “caronas” foi demonstrada por ao menos um participante desse grupo, que enviou uma notícia sobre as viagens da FAB feitas por um filho de Lula e amigos: “Para pensar a seguinte frase: as mesmas coisas feitas por outras pessoas. Por favor vejam a reportagem a baixo [sic]. Temos que prevenir o PR e a FAB da história se repetir. Filho de presidente não pega carona!”.
O UOL entrou em contato com o GSI, a FAB e representantes da família Bolsonaro e aguarda resposta.
Qual a regra para uso de avião da FAB?
A regulação de voos da FAB é feita pelo decreto 10.267/2020, assinado por Bolsonaro, que autoriza o transporte para o vice-presidente da República, além dos presidentes do Senado, Câmara e STF (Supremo Tribunal Federal). Ministros de Estado, comandantes das Forças Armadas e o chefe do conjunto das Forças Armadas também podem fazer uso dos voos da FAB.
O decreto não se aplica ao presidente da República e são excluídas também as “comitivas presidenciais ou as equipes de apoio a viagens presidenciais”.
Os pedidos para entrar nos voos também devem obedecer uma ordem de prioridade. Entram nesse critério, de acordo com a regulamentação, “motivo de emergência médica”, “segurança” e “viagem a serviço”.