Viralizou por esses dias um vídeo em que Luiza Trajano, dona da Magazine Luiza, interpela o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para que este reduza a taxa básica de juros, a Selic. Trajano se soma a uma miríade de atores políticos que reclamam, criticam, pedem e imploram para que o presidente do Banco Central faça o óbvio: diminuir a maior taxa de juros reais do mundo.
É uma situação, convenhamos, ridícula.
Campos Neto foi nomeado para o seu cargo pelo ex-presidente, Jair Bolsonaro. Não foi eleito por ninguém nem nomeado por Lula, o presidente escolhido pela população para comandar o Brasil até 2026. Por que raios um cidadão sem legitimidade alguma tem o poder de decidir algo tão central para a economia do país como a taxa de juros?
Lembrei. É que estamos sob a vigência da verdadeira aberração que é a lei da “autonomia” do Banco Central, um evidente estratagema do liberalismo brasileiro para amarrar aos seus dogmas um eventual governo com propensões à esquerda.
Acontece que o governo Lula não completou nem 6 meses e o mandato de Campos Neto vai até o fim de 2024. É razoável que um infiltrado continue dando as cartas sobre os juros por mais um ano e meio? Evidente que não.
Por isso faz muito bem o senador Randolfe Rodrigues quando começa a falar na exoneração do presidente do BC. Há resultados promissores na economia e Campos Neto continua mantendo uma taxa de juros absolutamente injustificável. A esta altura é evidente que o presidente do BC continuará fingindo que ouve as críticas enquanto faz o serviço sujo para o rentismo – quem não quer continuar especulando com retorno certo e alto, não é mesmo?
É hora de escalar. O governo deveria aproveitar que tem o apoio de setores importantes do empresariado nesta questão dos juros e trabalhar pela exoneração de Campos Neto. É um processo difícil, já que é necessária aprovação pelo Senado, mas é uma batalha necessária. Mesmo que o governo não consiga aprovar a exoneração, levar a questão para o Senado jogaria mais luz no debate e aumentaria a pressão sobre Campos Neto.
Ou alguém duvida que caso um governo de direita suceda o governo atual, aquele agirá rapidamente para derrubar um presidente do BC nomeado por Lula?
A lei da “autonomia” do Banco Central precisa ser revista, não há dúvidas. Mas só em um possível segundo mandato de Lula. Neste primeiro mandato o governo deveria centrar fogo em Campos Neto e nomear um presidente do Banco Central alinhado com as abundantes evidências de que o liberalismo econômico não funciona em lugar nenhum.
Caso a direita vença as próximas eleições presidenciais, que também tenham que lidar com um presidente do BC infiltrado.