O empresário Tony Garcia, ex-deputado e delator na 13a. Vara Federal de Curitiba, disse que a curta nota de Sergio Moro, lida pela CNN, revela que o ex-juiz está “com medo”.
A nota foi a primeira manifestação de Moro depois que, em entrevista à TV 247, Tony Garcia revelou como foi usado de maneira ilegal num acordo de colaboração realizado com o ex-juiz.
“O relato do ex-deputado (Tony Garcia) é mentiroso e dissociado de qualquer amparo na realidade ou em qualquer prova”, disse o juiz, por meio de nota.
A manifestação de Moro foi lida pela apresentadora Tainá Falcão, no programa CNN 360o., depois da entrevista com Tony Garcia.
A CNN procurou Tony Garcia depois da entrevista à TV 247, em que ele contou que ajudou Moro a localizar e apreender um vídeo em que desembargadores do TRF-4 apareceriam de cuecas e gravatas, numa festa com prostitutas na suíte presidencial do hotel Bourbon, em Curitiba.
Segundo ele, a festa foi organizada pelo advogado Roberto Bertholdo, em 19 de novembro de 2003, depois do jogo da Seleção Brasileira contra o Uruguai, no Pinheirão, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2006.
Bertholdo era conhecido pela influência no TRF-4 e também no Superior Tribunal de Justiça.
Um sócio de Bertholdo na época, Sérgio Costa, gravou a festa, sem que Bertholdo soubesse, para pressioná-lo caso rompesse a sociedade.
Quando soube, Bertholdo obrigou Costa a lhe entregar o vídeo, segundo relato de Tony Garcia.
Sergio Moro estava à frente da 2a. Vara Federal, mais tarde renomeada 13a., fazia cerca de dois anos quando determinou a Tony Garcia que tentasse localizar a vídeo. Tony tinha feito acordo de colaboração depois de ser acusado de fraude no Consórcio Nacional Garibaldi.
“Ele queria porque queria o vídeo. Eu indiquei a ele um endereço em São Paulo onde Bertholdo guardava um Jaguar (carro) e depois, quando fui novamente chamado por Moro, ele me cumprimentou e disse que a operação tinha sido bem-sucedida. Ou seja, pegaram o vídeo”, disse Tony.
A realização da festa que reuniu magistrados e prostitutas no Bourbon chegou a ser investigada pelo Ministério Público Federal, representado por Carlos Fernando dos Santos Lima e Januário Paludo.
Segundo a investigação, que não tem desfecho conhecido, as prostitutas que participaram da festa com os magistrados foram contratadas pela cafetina Mirlei de Oliveira, antiga prestadora de serviços a Roberto Bertholdo.
Segundo reportagem da revista IstoÉ, em uma conversa interceptada com autorização judicial, ela comentou que estava sendo pressionada a revelar detalhes de sua relação com Bertholdo.
A reportagem informa: “Numa das conversas, ela (Mirlei) se refere a uma festa específica, ocorrida no Hotel Bourbon, em Curitiba. ‘Fiz tanta festa para atender juízes, que não sei que festa é essa’, responde”.
A entrevista divulgada neste domingo pela CNN destaca o trecho da entrevista que realizou com Tony Garcia em que ele conta que Moro interferiu para afastar o juiz federal Eduardo Appio da 13a. Vara Federal de Curitiba, há cerca de duas semanas.
Tony disse acreditar que essa interferência aconteceu porque Appio levaria adiante as denúncias que ele fez à responsável anterior pela operação, Gabriela Hardt, em 2021.
Segundo Garcia, essas denúncias se referiam a fatos da época em que teria ficado por anos trabalhando para a Lava Jato para obter informações de interesse da operação.
“Eles me amarraram nesse acordo durante dez anos. Eles ficaram me usando para obter informações, usaram informações para perseguir o PT, eles usaram da minha amizade com o Eduardo Cunha para eu colher informações de operadores do PT, operadores da Petrobras, operadores do Zé Dirceu, de tudo, eles queriam pegar tudo”, afirmou.
Depois da entrevista, procurado pelo 247, Tony Garcia reafirmou que tem provas que confirmam suas denúncias. O vídeo, inclusive, teria sido usado para o ex-juiz chantagear os desembargadores do TRF-4. “Esse é o método Moro”, disse.
O que você achou da nota sucinta do Moro à CNN, Tony? “Medo, muito medo. Conheço ele”, respondeu, também sucintamente.
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