Analistas do “mercado” não esconderam a surpresa. Nesta quinta-feira (25), o IBGE confirmou que a inflação no Brasil segue em queda, mas num ritmo maior do que os especialistas previam. Em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado uma “prévia da inflação”, foi de 0,51% – taxa inferior à de abril (0,57%). A alta é de 3,12% no ano e de 4,07% em 12 meses.
É verdade que o último Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central na segunda-feira (22), com base nas previsões desse mesmo “mercado”, já sinalizava para uma redução das estimativas inflacionárias. O palpite dos analistas sobre a inflação passou de 6,03% para 5,80% neste ano – e de 4,15% para 4,13% em 2024. Ao comentar tais prognósticos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, limitou-se a dizer que o Focus “está em linha com as projeções da Secretaria de Politicas Econômicas”.
Pode-se (e deve-se) criticar o excesso de concessões de Haddad ao tal “mercado”, como na proposta do novo arcabouço fiscal. Só que é preciso igualmente admitir que, já faz algumas semanas, o ministro tem anunciado a boa nova: os indicadores econômicos neste primeiro ano de governo Lula serão, em geral, melhores do que indicavam as projeções iniciais.
O Banco Central (BC) não nutre tamanho otimismo, haja vista as intragáveis atas que seu Comitê de Política Monetária (Copom) emitiu em 2023 para justificar a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%. Não por acaso, o economista Roberto Campos Neto, que preside o BC desde 2019, continua a se fazer de bobo e atribui as revisões do Boletim Focus às novas regras fiscais.
“Existia um medo de que a inflação pudesse, simplesmente, sair do controle. O arcabouço deixa muito claro que esse medo não existe mais”, declarou Campos Neto à GloboNews. Segundo ele, acabou-se “o que chamamos de risco de cauda”, seja lá o que isso quer dizer.
A crer nas palavras de Campos Neto (o que é sempre um risco), talvez as expectativas do mercado possam ficar menos catastrofistas nas próximas sondagens. Da mesma maneira, o reconhecimento de que o governo controlou a inflação – sim, foi, antes de tudo, o governo Lula que agiu – pressiona ainda mais o Copom a reduzir a taxa de juros.
Campos Neto tergiversou em relação a esse cenário que cai sobre seus ombros, embora tenha elogiado “o grande trabalho feito pelo governo, pelo ministro Fernando Haddad”, na tramitação do projeto do arcabouço no Congresso. “Achamos que o processo de desinflação ainda não acabou e precisamos ter certeza de que faremos a inflação convergir para o alvo”, afirmou o chefe do BC. Em outras palavras, não esperemos uma Selic menor tão cedo.
Recém-indicado ao Banco Central, Gabriel Galípolo, atual secretário executivo do Ministério da Fazenda, especulou “um corte de 3,5 pontos percentuais da Selic nos próximos 18 meses”. É pouco ainda, muito pouco, mas ao menos Galípolo sai da zona de conforto de Campos Neto e tenta comprometer o BC. A economia brasileira avança, mas o Banco Central segue a serviço do rentismo.
* Vermelho