No ‘efeito Orloff’ da nossa democracia, Dallagnol é Moro e Collor é Bolsonaro amanhã.
O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria nesta quinta-feira (18) para condenar o ex-presidente Fernando Collor de Mello pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa numa ação envolvendo desvio de recursos da BR Distribuidora. O julgamento foi suspenso com o placar de 6 a 1 pela condenação de Collor, e deve ser concluído na próxima quarta-feira (24).
Na terça-feira (16), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou o mandato do ex-procurador e agora ex-deputado Deltan Dallagnol, por ter pedido exoneração do Ministério Público Federal (MPF) enquanto havia 15 procedimentos administrativos pendentes no Conselho Nacional do órgão, que poderiam deixá-lo inelegível. Alçado à condição de estrelado ao lado do ex-juiz suspeito Sérgio Moro durante a operação Lava Jato, hoje Dallagnol perambula como cadáver insepulto. Foi abandonado à própria sorte pela Câmara, em resposta à criminalização da política protagonizada por ele desde 2014.
Os dois movimentos do Poder Judiciário mostram que a correlação de forças na sociedade brasileira foi definitivamente modificada com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Obviamente o presidente não teve qualquer influência sobre os julgamentos. Mas é fato que a sociedade hoje não vê mais os supostos benefícios do combate à corrupção incensado pela mídia corporativa sobre a Lava Jato.
No caso de Collor, a condenação, embora em razão de outros crimes, chega com o atraso de décadas após o histórico e nefasto confisco da poupança dos brasileiros pelo governo do então presidente caçador de marajás, que só chegou ao Palácio do Planalto em 1989 com uma ajuda decisiva da Globo e da mesma mídia corporativa que anos depois repetiu acriticamente e disseminou o discurso lavajatista.
Collor já é carta fora do baralho da política. Deltan Dallagnol, se quiser sobreviver neste meio ambiente, deverá se retirar de cena e cuidar de sua defesa das ações criminais que ainda virão, por conta dos crimes cometidos na Lava Jato.
Nas redes, o clima é de catarse e regozijo pelos destinos conferidos a Dallagnol e Collor. Mas principalmente de esperança, de que, agora, dois dos principais criminosos do país tenham o merecido julgamento da Justiça, dentro dos marcos da nossa Carta de 1988. Me refiro a Sérgio Moro e a Jair Bolsonaro. O primeiro, que era chefe de Deltan Dallagnol na condução dos processos da Lava Jato, já sabe que seu futuro político está com os dias contados. Fala-se que até o fim do ano o ex-juiz suspeito deverá ter seu mandato cassado. Moro é acusado pelo PL, partido de Bolsonaro, de prática de caixa dois, e irregularidades no financiamento da campanha na eleição passada para o Senado. A ação corre em segredo de Justiça.
O segundo é o maior responsável por toda a tragédia que se abateu no país nos últimos quatro anos. Principal agente pelas mortes de mais 700 mil brasileiros durante a pandemia de Covid-19, pela destruição da imagem do Brasil perante o mundo, pelo desmonte das políticas de proteção social e ambiental, de cuidado com os povos indígenas, com crianças, mulheres, comunidade LGBTQIA+, pessoas negras. Mentor e líder da tentativa fracassada de golpe de estado no dia 8 de janeiro. Jair Bolsonaro é o maior criminoso do Brasil em liberdade atualmente.
Os julgamentos dos crimes de Jair Bolsonaro e de Sérgio Moro merecem a máxima celeridade do Poder Judiciário. Só com estes dois, e seu entorno, devidamente julgados e condenados é que o Brasil poderá retomar seu caminho de desenvolvimento e normalidade democrática. No ‘efeito Orloff’ da nossa democracia, Dallagnol é Moro e Collor é Bolsonaro amanhã.
*Aquiles Lins/247