Um dos principais motivos do Golpe de Estado de 2016, o aprisionamento da Petrobrás via PPI (Política de Paridade Internacional) acaba de ser enfrentado pelo governo Lula há menos de 6 meses de governo. Esta noite de 15 de Maio de 2023 quando Jean Paul Prates anunciou a medida, o assunto repercutiu negativamente na imprensa monopolista (porta-voz do Capital financeiro). Este é indiscutivelmente um momento histórico na guerra que se trava no Brasil (com ressonâncias internacionais, é claro). Enquanto muitos setores financeiros acreditavam que Lula 3 seria um governo fácil de ser chantageado e manobrado diante dos acionistas e mercado financeiro, Lula e o PT sinalizam de conjunto que enfrentarão a Direita e os Neoliberais – os grandes fiadores não só do Golpe de 2016 como do governo Bolsonaro.
A implementação da política de paridade internacional de preços dos combustíveis no Brasil foi um mecanismo clássico de descentralização da crise econômica internacional dos países centrais do sistema para os países periféricos ou de economias emergentes. O objetivo era o de empurrar a crise dos petrodólares para o público consumidor brasileiro e, por tabela, da América Latina. Este é um sistema cancerígeno que suga os rendimentos da população assalariada das principais cidades do Brasil e América Latina com preços dos combustíveis cobrados em dólares. Este foi, sem dúvidas, um dos principais motivos pelos quais a Operação Lava Jato foi implementada no Brasil (assim como em países vizinhos) com coordenação do Departamento de Justiça dos EUA. Desde a década de 1970, o Brasil se tornou um país de mercado atrativo para o setor energético global com a ampliação do consumo de veículos de passeio, utilitários e caminhões de carga. Aliado ao fato do Brasil ser altamente dependente da circulação de insumos pela via rodoviária, a necessidade de colocar esse mercado no “bolso” do parasitismo financeiro só se intensificou de forma agressiva a partir do estouro da Crise econômica internacional de 2008. Outra pedra no sapato dos parasitas financeiros é o fato da Petrobrás permanecer ainda uma empresa pública (embora atualmente de Capital misto) e que caminhava para um status de indutora do crescimento econômico nacional junto de outros setores da construção civil que passaram a incomodar a concorrência internacional na licitação de obras não só no Brasil como em outros países. A partir disso, as engrenagens do Golpe se movimentaram para disciplinar o Brasil e arrastá-lo para mais uma onda de subdesenvolvimento com a colaboração de elites locais e uma classe média despolitizada, sensível a qualquer discurso de cunho moral. As classes médias cavaram a própria cova em nome da defesa de elites oligárquicas locais e até internacionais, tudo em nome de uma imaginária cruzada contra a corrupção dos “comunistas”.
Utilizando-se de artimanhas em torno de “combate à corrupção” na Petrobrás, uma retórica sedutora que ativa a histeria na classe média, o Golpe de Estado de 2016 foi levado adiante numa sociedade que se fragmentou numa guerra virulenta Direita x Esquerda. Teria esta população amadurecido diante de toda esta experiência política? Esta é outra discussão ainda a ser realizada e que espera-se que o PT no poder tenha condições políticas e econômicas de combater esse surto irracional dos “patriotas”, vítimas da própria ignorância política.
O Golpe de Estado de 2016, é claro, não se resume apenas à questão das disputas energéticas internacionais em meio ao acirramento da Crise Capitalista Global, mas sem titubear, a implementação da PPI foi um dos motivos centrais da manobra que abriu essa Caixa de Pandora no Brasil e América Latina. Ainda que os preços dos combustíveis possivelmente não caiam no ritmo e velocidade que nós brasileiros gostaríamos, a sinalização do governo de enfrentar um monstro ceifador de vidas e do futuro da população brasileira é uma vitória superlativa. Não devemos nos surpreender também que o governo Lula venha sofrer novamente ameaças do poder econômico, por isso Lula deve manter suas bases sociais em alerta.