Com o país ainda perplexo diante de uma horda de bolsonaristas que invadiu, vandalizou e roubou o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF, em 8 de janeiro, Bolsonaro incentivou a violência de seus seguidores, postando no Facebook um conteúdo que promovia o golpismo dois dias depois. Por conta disso, o ministro Alexandre de Moraes determinou, nesta sexta (14), que ele seja ouvido no inquérito que investiga os autores intelectuais dos atos golpistas, a pedido da Procuradoria-Geral da República.
A convocação demorou, mas finalmente veio, embasada na publicação de um vídeo – decisão errada, provavelmente de Carluxo, que cuida das redes sociais do pai.
Pois nas semanas anteriores, o então presidente vinha tomando cuidado para evitar publicações em suas contas pessoais que produzissem provas de que ele estava incitando os protestos violentos contra a democracia. Afinal, ele havia fugido para os Estados Unidos, em 30 de dezembro, para não ser responsabilizado pelos atos golpistas planejados para nove dias depois.
A postagem da noite de 10 de janeiro, mesmo com a covardia de ter sido deletada horas depois, foi um recado explícito ao seu rebanho considerando o contexto em que estávamos: vão em frente! Mas como os Três Poderes e a sociedade se uniram para dar uma resposta forte ao ocorrido, o recado flopou.
O vídeo mostrava parte de uma entrevista do bolsonarista Felipe Gimenez, um dos procuradores do Mato Grosso do Sul, divulgando a manjada mentira de que a eleição foi fraudada e que o sistema eletrônico de votação não é confiável. Na postagem de Bolsonaro, destacava-se a legenda: “Lula não foi eleito pelo povo, ele foi escolhido e eleito pelo STF e TSE”.
Ironicamente, três meses depois, a defesa de Jair Bolsonaro está se ajoelhando aos ministros do TSE em busca de clemência uma vez que sua inelegibilidade desponta no horizonte. Chegam a dizer que o tribunal tem “postura leal e institucionalmente irmanada com a genuína proteção da democracia”, como apurou o Painel da Folha de S.Paulo.
Puro óleo de peroba. Durante anos, Jair difundiu que as urnas eletrônicas eram corrompidas e manipuladas em nome de Lula, usou técnicos das Forças Armadas para tentar colocar em dúvida a lisura da corte, transformou os chefes do TSE (Luís Roberto Barroso e, depois, Alexandre de Moraes) em alvos de seu rebanho, colocou embaixadores estrangeiros em um espécie de “cercadinho” para atacar o sistema eleitoral brasileiro. Armou seus seguidores através de decretos. Conclamou a todos a pegar em armas.
Fomentou, pois, um golpe de Estado. E, depois que ele aconteceu, publicou um vídeo, reafirmando tudo o que havia dito.
*Leonardo Sakamoto/Uol