Pressão de mercados financeiros por “âncora fiscal” é luta para manter privilégios

Pressão de mercados financeiros por “âncora fiscal” é luta para manter privilégios

Compartilhe

Já não é de hoje que sabemos que o setor financeiro possui uma tendência a se descolar da realidade concreta das sociedades. Os mercados são a representação mais bem acabada de algo que se assimila a uma doença psíquica, um vício comum dos banqueiros e da grande burguesia de impedir a diluição da concentração bruta e irracional de riqueza produzida pela sociedade (o que conhecemos em economia como “sobreacumulação” e “superprodução”). Estes setores que se apropriam da riqueza mediante o golpe da mais-valia são capazes de dissimular a realidade, criar e recriar mitos religiosos, sociais, políticos e até científicos para manter seus privilégios na ordem do dia. Há muito o sistema econômico se descolou de qualquer lastro de razão. O setor financeiro é caracterizado, desde o século passado, pela mais absoluta barbárie e, a cada ciclo crítico de concentração de Capital, mais perigosa e destrutiva esta máquina de “moer carne” se torna. Alguém ou algo tem de frear esse ímpeto de destruição.

No Brasil, a pressão dos mercados por garantias de que o governo Lula 3 cumpra com a “responsabilidade fiscal” (de acordo com o que estes setores mesmos entendem como “responsabilidade”) é precisamente a raiz de todo o mal que assola o país, no passado e no presente. É a versão mais bem acabada da luta dos interesses de classe que permeiam a política não só do Brasil mas em diferentes escalas e realidades, do Mundo inteiro. Trata-se, na prática, da tentativa constante de impedir o gerenciamento da distribuição justa e racional da riqueza produzida no interior da sociedade para manter privilégios historicamente adquiridos mediante um descompasso na correlação de forças estruturais.

Em termos políticos, esse vício leva o país a mergulhar neste espetáculo deprimente de ódio. O ciclo de ódio e o rancor é diluído e compartilhado entre a população que, na inocência e na falta de conhecimentos mais profundos da verdadeira luta que se trava na História passa a odiar uns aos outros sem nem ao menos saber o porquê. Esse ímpeto é amplificado pelo poder de difusão das redes sociais e, através dos algoritmos das redes, é instrumentalizado para incriminar os próprios trabalhadores e não mais o poder econômico. É a própria população trabalhadora que passa a agredir ela mesma sem saber. A discussão “Direita x Esquerda” no Brasil é didática e sem sombra de dúvidas um caso emblemático que deve ser foco de estudo, uma guerra que colocou trabalhadores contra trabalhadores ao olhar de prazer dos banqueiros e setores financeiros de peso que manipulam a realidade para, ao final, manter o Status quo intacto – quase como uma política de “Pão e circo” do período crítico da História romana. Para isso, amplificam bandeiras de “mitos” e falsos profetas que nem de longe representam interesses populares. O ajuste fiscal é exatamente o que levou o país em anos recentes a mergulhar em um dos seus piores momentos históricos: o Golpe de Estado de 2016 disfarçado de “rito constitucional legal”, ou seja, o infeliz Impeachment de Dilma Rousseff que não teve amparo legal. É o mesmo apego ao ajuste fiscal que levou o país a mergulhar numa espiral de criminalização sistemática da política (fenômeno conhecido como fascismo) exemplificado pelo uso antiético da Justiça como instrumento de guerra (Operação Lava Jato). E é a mesma sanha de manutenção de poder que levou a ascensão deste que é o mais próximo de um transtorno psíquico: o Bolsonarismo. Talvez o Brasil ainda demore mais tempo para entender a gravidade do atraso civilizacional que foi ter colocado uma figura como Jair Bolsonaro no poder do país ou talvez jamais entenda, o que seria lamentável. Entretanto, a raiz do problema deve ser de conhecimento geral – a busca por mecanismos legais que limitem o país de garantir investimentos concretos e positivos para a maior parte da população deve ser foco de enfrentamento.

Entre os economistas honestos, ou seja, aqueles que se propõem a levar a discussão para o lado da razão e não de interesses particulares mesquinhos, o conhecimento de que aprofundar a âncora fiscal significa acelerar o ciclo de crise está muito bem cristalizado. Não é a toa que entre muitos economistas há o entendimento de que o momento exige políticas anticíclicas.

O consumo do país reduziu drasticamente. Isso não interessa a maioria esmagadora dos médios e pequenos empresários que dependem do consumidor e de uma política de expansão da renda per capita do Brasil. Retomar um pujante mercado interno, fazer a roda da economia girar passa necessariamente por não dar vazão a ajustes fiscais que só interessam, mais e mais, o setor improdutivo da economia, que são os mercados financeiros e banqueiros. Espera-se que para além da ambiguidade estratégica, o governo do Partido dos Trabalhadores não se deixe intimidar por aqueles que nada produzem na sociedade, apenas sugam a riqueza por ela produzida, apropriando-se de lucros exorbitantes às custas da miséria desenfreada.

 

 

Compartilhe

%d blogueiros gostam disto: