Valor acima de R$ 16 milhões é considerado demais para encontros entre chefes de Estado.
O escândalo das joias oferecidas como presente do governo saudita à família Bolsonaro chamou a atenção de embaixadores brasileiros da ativa e aposentados pelo alto valor dos artefatos, acima de R$ 16 milhões. Segundo diplomatas ouvidos pelo Globo, a cifra é considerada inusual na diplomacia mundial.
De forma geral, um “souvenir” dado pelos sauditas — uma caneta, uma abotoadura ou um rosário, que são os presentes mais frequentes — custa até R$ 2 mil e normalmente não é aceito por funcionários do governo brasileiro, disse um diplomata.
Um embaixador com larga experiência comentou que, em mais de 50 anos de carreira, nunca viu algo parecido. Ressaltou ainda que, normalmente, em encontro entre chefes de Estado, há trocas de presentes. É comum, por exemplo, um presidente dar a outro mandatário um quadro pintado por um artista de seu país, que acaba incorporado ao patrimônio da União.
Na avaliação deles, contudo, apesar da repercussão negativa para a imagem do Brasil no exterior, mas não deve afetar as relações com os árabes.
Apesar de o chanceler brasileiro Mauro Vieira ter se reunido com o ministro dos negócios estrangeiros da Arábia Saudita, príncipe Faisal bin Farhan Al Saud, no mesmo dia que o caso das joias foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, o assunto não foi tratado. A conversa, que aconteceu paralelamente ao encontro de chanceleres do G-20, na Índia, concentrou-se na situação do Oriente Médio, em especial a questão palestina.
Na avaliação de um diplomata graduado, o fato de Jair Bolsonaro não ser mais o presidente é um fator que ajuda a reduzir a repercussão do caso. Além disso, na sua visão, o problema está ligado ao Fisco brasileiro, sem qualquer relação com os árabes. Ele indica que não há qualquer motivo para que o caso afete o comércio bilateral e os investimentos entre os dois países.
Na área comercial, a Arábia Saudita é o maior importador de produtos brasileiros entre os árabes. Compram carne de frango, açúcar, milho e derivados de soja. Em 2022, as exportações brasileiras para aquele país cresceram mais de 40% em relação ao ano anterior.
Por outro lado, a Arábia Saudita é um dos principais fornecedores de petróleo para o Brasil. Com o salto na cotação do produto, devido aos efeitos da guerra na Ucrânia, a balança comercial com aquele país, no ano passado, teve um déficit de quase US$ 2,4 bilhões. As importações, que se concentram em óleo cru, fertilizantes e obras de plásticos, somaram US$ 5,306 bilhões em 2022.