BRASÍLIA (Reuters) – Sem uma linha de reação definida, o caso envolvendo o ingresso irregular no país de joias procedentes da Arábia Saudita destinadas ao então presidente Jair Bolsonaro e sua mulher, Michelle, complicam as tratativas para o retorno do ex-chefe do Executivo dos Estados Unidos ao Brasil, segundo fontes ligadas a ele disseram à Reuters.
Segundo as fontes, Bolsonaro provavelmente deverá enfrentar uma nova investigação criminal pelo caso. Ele agora está sem a garantia do foro privilegiado, o que o deixa mais vulnerável a medidas restritivas como busca e apreensão.
O ex-presidente já está sendo investigado pelo Supremo Tribunal Federal no inquérito que apura os ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília em 8 de janeiro e em ao menos mais quatro inquéritos. Há também ações contra o ex-presidente analisadas na Justiça Eleitoral que pedem que ele fique inelegível.
Não bastasse, conforme as fontes, o caso ainda pode retirar o foco das atenções para que o ex-presidente volte ao país no papel de líder da oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva que gostaria de encarnar.
Nesta segunda-feira, a Polícia Federal decidiu abrir um inquérito após a Receita Federal informar que o governo Bolsonaro não adotou os procedimentos necessários para a incorporação ao patrimônio público de joias presenteadas pelo governo saudita a uma comitiva brasileira que visitou o país em 2021. Parte das joias ficou retida na Receita Federal em Guarulhos –um conjunto avaliado em 16,5 milhões de reais–, enquanto um outro pacote foi entregue à Presidência.
A Receita Federal e o Ministério Público Federal de São Paulo também instauraram apurações sobre o caso revelado na sexta-feira pelo jornal O Estado de S. Paulo. Nesta terça-feira, a Controladoria-Geral da União (CGU) informou ter instaurado uma Investigação Preliminar Sumária (IPS), com o objetivo de apurar a atuação de servidores públicos no caso.
Até o momento, conforme duas fontes, Bolsonaro não indicou qual a linha seus aliados devem seguir para se manifestar sobre o caso, o que tem dificultado a atuação em sua defesa até dos bolsonaristas mais aguerridos.
O episódio tem complicadores, avaliam as fontes, porque há uma série de ofícios de integrantes do governo pedindo a liberação das joias, retidas desde outubro de 2021 no Aeroporto de Guarulhos, inclusive às vésperas de Bolsonaro deixar o comando do país.
No partido, segundo uma das fontes, a avaliação é que o caso das joias foi mal conduzido e não é um problema partidário, mas exclusivamente de Bolsonaro e de Michelle. A ex-primeira-dama foi aconselhada a adiar o giro que iria começar a fazer este mês para promover o PL Mulher.
Michelle tem sido tratada pelo presidente do partido, Valdemar Costa Neto, como uma das apostas da legenda para 2026 caso o ex-presidente venha a ser condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral e impedido de concorrer.
O próprio retorno de Bolsonaro dos Estados Unidos, segundo outra fonte ligada à família, segue incerto e deve ser postergado em razão do caso das joias. Na manhã de terça, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que coordenou a campanha do pai à reeleição, chegou a publicar no Twitter que o ex-presidente voltaria ao país no dia 15.
*Com 247