Documento entregue por Fernando de Sousa Oliveira mostra que ele recebeu nove mensagens sobre situação “tranquila” no dia 8 de janeiro.
Ex-secretário executivo da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), o delegado da Polícia Federal Fernando de Sousa Oliveira entregou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos atos antidemocráticos um dossiê com mensagens que recebeu dos responsáveis pela segurança de Brasília no dia 8 de janeiro de 2023.
Oliveira acabou exposto no dia da invasão e depredação das sedes dos Três Poderes porque avisou ao governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), que a manifestação rumo à Esplanada dos Ministérios estava “tranquila”. O áudio foi enviado uma hora antes dos extremistas romperem a barreira policial e entrarem à força nos prédios públicos.
No documento ao qual a coluna teve acesso, a defesa de Oliveira expôs as mensagens que subordinados encaminharam para ele por meio aplicativo WhatsApp. Entre a noite de 7 de janeiro, véspera da invasão, e a manhã do dia 8, Oliveira recebeu nove mensagens relatando que a situação “estava tranquila”, “tudo normal” e que o “alto comando da Polícia Militar do DF tomou todas as providências”.
Uma das interlocutoras que deu avisos a Oliveira sobre o monitoramento dos extremistas foi a subsecretária de Operações Integradas da Secretaria de Segurança Pública do DF, coronel da Polícia Militar do DF (PMDF) Cíntia Queiroz de Castro. “Doutor, o efetivo a ser empregado pela PMDF está maior que o costumamos empregar (sic)”, disse Cíntia ao então secretário executivo, às 6h04 de 8 de janeiro.
O ex-comandante do 1º Comando de Policiamento Regional (1º CPR) coronel Marcelo Casimiro, responsável pelo policiamento da área da Esplanada dos Ministérios, disse a Oliveira, às 7h28 do dia da invasão: “Temos um bom efetivo na Esplanada desde as 7h00 e vai aumentando no decorrer da manhã e do dia (sic)”.
Por meio das mensagens entregues à CPI, o ex-secretário executivo da SSP-DF quer mostrar que apenas repassou ao governador as informações enviadas a ele. Ou seja, quer provar que não houve camuflagem da real situação – pelo menos, não por parte dele.
“Registre-se que em momento algum o peticionante narrou para o governador um ambiente diferente do que era presenciado e acompanhado pelos agentes de segurança operacionais em campo, aliado a fotos e vídeos que recebia”, diz trecho do documento.
Segundo o dossiê, das 8h30 até aproximadamente 13h de 8 de janeiro, chegaram informes com os seguintes dizeres: “Caminhada pacífica’, ‘ânimos pacíficos’, ‘clima tranquilo’, ‘sem alteração’ e ‘policiamento reforçado’. Oliveira também recebeu a imagens de uma Esplanada “praticamente vazia de pessoas”.
Oliveira afirma, no documento, que houve “erro de execução operacional por parte das forças policiais, aliado a uma possível passividade de alguns policiais que estavam em campo, que não exerceram suas funções de conter os criminosos ou restabelecer a ordem”.
No dossiê, Oliveira diz que não estava na chefia da SSP-DF naquele domingo (8/1), já que o então secretário, Anderson Torres, só sairia oficialmente de férias na segunda-feira, 9 de janeiro.
Anderson Torres estava nos Estados Unidos com a família na data da invasão e depredação do Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF). Ele está preso no âmbito da investigação de suposta conivência de autoridades aos atos antidemocráticos.