OUTRO LADO: Secretaria de Administração Penitenciária do DF diz que não há distinção entre custodiados do sistema prisional.
Segundo a Folha, mulheres que ficaram detidas no sistema penitenciário do Distrito Federal por participação nos atos golpistas de 8 de janeiro reclamam principalmente da qualidade da comida e de banho gelado quando relembram do período no presídio da Colmeia.
Segundo a Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, até o fim da tarde desta segunda-feira (27) 605 homens e 305 mulheres permaneciam presos pelos atos de 8 de janeiro. Esses já estão há 50 dias atrás das grades.
A Folha conversou com mulheres liberadas após o uso de tornozeleira eletrônica, defensores públicos e advogados de presos e presas.
Duas mulheres, de 49 e 58 anos, que estavam presas e foram soltas mediante monitoramento com tornozeleira eletrônica, falam em arrependimento de estar em Brasília em 8 de janeiro; mas dizem que não participaram das depredações às sedes dos três Poderes.
Uma delas afirmou que estar na prisão é como se a pessoa estivesse morta —não se sabe o que acontece do lado de fora e a família não consegue fazer contato.
Ela foi levada para a Colmeia dias depois das depredações. Ficou presa por cerca de dez dias, período que relembra chorando. Para ficar na cela, ganhou um kit de roupa branca contendo bermuda, camiseta, calcinha, escova de dente e um colchão.
Foi nesse colchão que passou a maioria do tempo, sentada e dividindo cela com mais 12 pessoas de diversos cantos do país. Elas compartilhavam uma pia e um vaso sanitário.
A mulher disse ter ficado os primeiros cinco dias sem trocar de roupa até a família comprar novos kits. Contou ainda que uma das presas estava menstruada e não tinha troca de roupa.
Ela afirma que o mais problemático na prisão era a comida. Segundo seu relato, as presas eram servidas duas vezes ao dia. No almoço recebiam uma marmita e um suco. Nos primeiros dias não havia talheres e tinham que comer com a tampa do recipiente.
Ao anoitecer, recebiam outra marmita com mais dois pães, uma fruta e uma caixinha de achocolatado —esses últimos itens eram para o café da manhã. A mulher diz que diversas vezes a comida inteira, que classificou como lavagem, foi descartada no lixo.
Uma das mulheres entrevistadas conta que agora precisa se apresentar semanalmente à Vara de Execuções Criminais do fórum da cidade em que vive e que não pode usar mais redes sociais por determinação judicial.
Ela conta ter permanecido no acampamento em frente ao quartel-general do Exército, diz que as pessoas se arrependeram de ter ido e que só ao sair da prisão teve a dimensão dos danos causados pelos ataques.
Uma das entrevistadas, que é evangélica, conta ter passado os dias na cela orando. Ao sair da prisão, ela diz ter parado de ir aos cultos por causa da tornozeleira eletrônica.
Ela afirma que se arrepende de ter participado dos atos e que na prisão há sensação de morte.
Uma das maiores preocupações da defensoria foi com a prisão de um homem de 28 anos com diagnóstico de esquizofrenia e retardo mental moderado. Ele era acompanhado pela Rede Municipal de Atenção em Saúde Mental de Feira de Santana, na Bahia.
Desde o dia 30 de janeiro, a Defensoria Pública da União pedia a sua liberdade provisória, baseada em laudos médicos.
O subprocurador-geral da República, Carlos Frederico Santos, também solicitou que a sua prisão fosse substituída por medidas cautelares.
O pedido foi feito com outras 153 pessoas, que, segundo informações recolhidas por autoridades, estavam nos arredores do quartel-general do Exército e não entraram ou vandalizaram os órgãos públicos, e só foi atendido pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), nesta segunda.