Ela também já teria tentado a internação da mãe em outra situação. O companheiro é suspeito de fazer o mesmo com o irmão.
Motivação financeira nos crimes. Em entrevista ao RJ2, Maria Aparecida Paiva relatou o desespero de ficar internada em uma clínica psiquiátrica, mesmo sem estar doente, informa o G1.
Nesta sexta-feira, a polícia prendeu a filha de Maria Aparecida, Patrícia de Paiva Reis, e o genro Rafael Machado. Maria estava internada desde o dia 6.
“Estava saindo do bando e uma ambulância, na mesma calçada, me pegou e me jogou dentro da ambulância. O rapaz falou: “Nós vamos pra Petrópolis, porque lá é melhor’. Mas quem tá fazendo isso ? Sua família. Eu fiquei desesperada, gritando, gritando. Chegamos em Petrópolis, me botaram num quarto, trancado, sem janela, sem nada e eu fiquei lá três dias”, lembra ela.
Depois do período, ao receber uma visita da filha, ela achou que ia ser liberada, mas na verdade foi apenas transferida. “Desci toda feliz, porque achei que ia embora, quando cheguei lá ela falou que ia pra outra clínica”, lamentou.
Como motivos para a internação, Maria diz que a filha ficou com raiva porque ela denunciou que estava maltratando os netos. Além disso, ela vê uma questão financeira: “Tem questão financeira envolvida também, porque ela tem medo de perder a pensão do filho dela e se essa denúncia vai pro processo ela perde, porque o pai está pedindo a guarda do filho”, acrescentou.
“Olha, eu fico muito triste [disso tudo o que está acontecendo vir da própria filha]. Nunca pensei que isso fosse acontecer. Isso é tão verdadeiro, envolvido no dinheiro, porque no dia que ela me botou na clínica, ela contratou duas faxineiras, limpou meu apartamento e já alugou o apartamento”. Segundo Maria, o imóvel foi alugado para o carnaval.
“Não tenho raiva, só tristeza”, concluiu.
Ficha policial da filha
A mulher presa com o companheiro sob a suspeita de sequestrar e internar a mãe à força em uma clínica psiquiátrica tem uma extensa ficha policial.
Patrícia de Paiva Reis responde a cinco processos por calúnia, estelionato, extorsão e furto em veículo, entre 2019 e 2020.
Ela também é investigada em dois processos, nas delegacias do Catete e do Leblon, sob suspeita de falsas acusações contra ex-namorados enquadrados na Lei Maria da Penha.
Um deles foi exposto em uma rede social de Patrícia em uma campanha contra a violência doméstica. A polícia, entretanto, suspeita que as acusações sejam inverídicas e que Patrícia chegava a enviar cartas para si mesma como se fosse de ex-companheiros descumprindo medidas protetivas.
Além disso, Patrícia já tinha tentado internar a mãe, pelo Samu, em 27 de janeiro. Mas o plano não deu certo. A equipe não constatou nada de errado com Maria Aparecida.
Em relatório, a equipe do samu que atendeu ao chamado da filha de Maria Aparecida informou que a paciente, que apresentava discurso coeso, linear e coerente, sem presença de delírios ou algo que sugerisse transtorno psiquiátrico de agressividade.
Para a equipe, a vítima, Maria Aparecida estava retraída e disse ter medo da presença da filha. Contou que a relação entre as duas era conturbada. E que Maria Aparecida aceitou ser examinada apresentando sinais vitais estáveis, sem alteração no exame físico.
A equipe relatou que ao sair do prédio, foi abordada por duas moradoras e pelo porteiro, que disseram que a mulher nunca apresentou alterações mas falaram que a filha, Patrícia, fazia ameaças à mãe e que com frequência acionavam os bombeiros e a PM para intervir na comunicação entre as duas.
Irmão de companheiro também viveu situação similar
O irmão do companheiro de Patrícia, Raphael, Rodrigo Machado Costa Neves, também viveu situação similar a de Maria Aparecida e tudo foi registrado pelas câmeras
No dia 18 de fevereiro do ano passado, ele foi surpreendido e imobilizado na frente de casa por uma equipe contratada por Rafael e Patrícia.
Rodrigo morreu de forma suspeita 7 meses depois, no 20 de setembro 2022. No CER do Leblon, a medica que atestou a morte informou que a possível causa seria por intoxicação.
No IML, a certidão de óbito apontou a necessidade de exames de laboratoriais.
O sequestro da mãe
Patrícia e o companheiro foram presos por sequestrarem a mãe dela e internarem em uma clínica psiquiátrica à força. Policiais da 9ª DP (Catete) prenderam Rafael Machado e ela nesta sexta-feira (24), no Catete, na Zona Sul do Rio. A idosa estava desde o dia 6 de fevereiro internada na Região Serrana.
Ela havia sido sequestrada na Zona Sul enquanto saía de uma agência bancária. Dois homens a colocaram em uma ambulância.
Segundo a polícia, a vítima chegou a pensar que era uma “saidinha de banco” ou sequestro relâmpago, mas percebeu a trama quando o sequestrador disse que “era uma coisa de família”.
Idosa sendo resgatada de clínica psiquiátrica na Região Serrana.
De acordo com as investigações, a motivação do crime seria porque a idosa havia denunciado os maus-tratos que os dois netos, de 2 e 9 anos, na Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav). Ela foi sequestrada poucos dias depois da denúncia.
Segundo os médicos, a vítima não tem problemas psiquiátricos nem necessidades terapêuticas.
“Iniciamos as diligências tão logo recebemos a informação de que uma idosa lúcida e sem nenhuma doença física ou mental estava sendo mantida em privação de liberdade em uma clínica. Após a prisão dos familiares que haviam determinado a internação, iremos investigar a conduta de médicos, enfermeiros e demais funcionários desses estabelecimentos a fim de entender a responsabilidade de cada um nesses crimes”, explica o delegado Felipe Santoro.