Feito com apoio de ONG e BID, plano previa uso de terreno de 36 mil m2 sem encosta e nunca foi executado por órgão estadual.
A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) do governo de São Paulo, mantém na gaveta por mais de 7 anos um projeto para urbanizar a Vila do Sahy, comunidade onde moravam 34 dos 48 mortos confirmados na tragédia provocada pelos deslizamentos de terra após as fortes chuvas no último fim de semana.
O projeto foi elaborado pela CDHU na gestão de Geraldo Alckmin, após uma demanda da sociedade civil encabeçada pelo Instituto Verdescola, uma das organizações mais atuantes no Litoral Norte de São Paulo. Pelo projeto, a comunidade seria transferida para um terreno plano de 36 mil metros quadrados, longe das áreas de risco de desabamento e que segue desocupado.
— O projeto foi desenhado pelo arquiteto Walter Caldana e tinha verba do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) pelo programa litoral sustentável. Mas o tempo passou e a verba foi para outra coisa — lembra Maria Antônia Civita, fundadora do Instituto Verdescola e viúva do empresário Roberto Civita, do Grupo Abril.
O Verdescola atua em São Sebastião desde 2008, atendendo a comunidade da Vila do Sahy com projetos nas áreas de educação e meio ambiente. Dentre os mortos na tragédia do último final de semana, estão alunos e pais de alunos do Verdescola.
Agora finalmente, após os deslizamentos de terra provocados por um evento climático extremo que deixou mais de 1,7 mil pessoas desalojadas, o projeto parece que sairá do papel. Após sobrevoar o local da tragédia nesta quarta-feira ao lado da Ministra do Meio Ambiente Marina Silva, o governador Tarcísio de Freitas ouviu sobre o projeto da CDHU.
— O governador ficou animado e disse que vai tocar o projeto — diz Maria Antônia. — Precisamos transformar essa tragédia em um caso de humanização pós-tragédia. Estou feliz com tanta solidariedade.
O governador de São Paulo também prometeu para a comunidade a construção de casas transitórias para abrigar as famílias desalojadas, projeto que deve contar com o apoio da ONG Gerando Falcões.
As casas seriam construídas com madeira e também com telhados feitos a partir de tubos de pasta de dente reciclável, a um custo de R$ 5 milhões para cada 100 unidades. Uma das possibilidades em discussão é de que as casas sejam financiadas com recursos das doações que estão sendo levantadas pela sociedade civil, explica Edu Lyra, fundador da Gerando Falcões e que está em São Sebastião ajudando nos trabalhos voluntários. — As casas de transição dariam alguma esperança de recomeço para essas famílias que estão em estado de choque, dormindo em colchões nas escolas, enquanto não se resolve a questão da habitação de forma permanente — diz Lyra.
Desde o final de semana, só a Gerando Falcões arrecadou R$ 6 milhões para o Instituto Verdescola, que está concentrando as doações. — Em quatro dias podemos construir uma vila aqui. Temos know how de construção de casas em favelas e podemos ser parceiros para acelerar esse processo — afirma Lyra. — Isso aqui é um cenário de guerra como nunca presenciei na minha vida. E só resolve com trabalho conjunto de exército, guarda civil, prefeitura, Estado e sociedade civil —.
Segundo Lyra, além da decisão política do governador, é preciso ainda coordenar com o governo local para dar início a construção das casas transitórias.