Ex-presidente nega e diz que está disposto a fazer exames que comprovem que ele não tomou o imunizante. Se tomou, acusação de genocídio contra ele pode ser reforçada.
O ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius de Carvalho, confirmou nesta sexta-feira (17), que há um registro de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tomou a vacina contra a covid-19. Agora o órgão investiga se o cartão de Bolsonaro foi adulterado para incluir a dose contra o imunizante. Por conta da investigação, a CGU transferiu para o dia 13 de março a decisão sobre a retirada ou não do sigilo sobre o cartão de vacinação de Bolsonaro.
De acordo com o registro, Bolsonaro tomou a dose única do imunizante da Janssen, em 19 de julho de 2021, em São Paulo. Assim, a CGU enviou ofício ao Ministério da Saúde para confirmar o dia e o horário em que os dados da vacinação do então presidente foram inseridos no sistema. A controladoria também quer saber quem foi o responsável por inserir estas informações e o profissional que aplicou a vacina.
“Esse registro existe. Pelo menos pelo que a gente sabe das informações. Se isso está em um ofício da CGU, a CGU não faz uma pergunta à toa. Se esse registro está em um ofício da CGU, eu não tenho como negar”, disse Carvalho à CNN Brasil.
Durante a pandemia, Bolsonaro fez constantes ataques aos imunizantes, levantando dúvidas infundadas sobre a sua eficácia. Repetidas vezes, afirmou que não se vacinou. Em 6 de julho, ele testou positivo para a doença. A partir daí, passou a afirmar que os anticorpos decorrentes da infecção garantiram a ele proteção contra a covid-19, dispensando a imunização. Além disso, seu governo estimulou o uso de medicamentos comprovadamente ineficazes, como a cloroquina, por exemplo.
Foi o hacker?
A controladoria segue apurando se o presidente de fato recebeu a dose ou se houve adulteração de seu cartão de vacinação para que pudesse entrar em outros países sem enfrentar barreiras. Em janeiro, um grupo de hackers chegou a divulgar um cartão de vacinação como sendo de Bolsonaro.
No final do ano passado, houve uma série de tentativas de invasão do sistema do ministério da Saúde. No dia 30 de dezembro, ainda sob o governo Bolsonaro, a CGU instalou uma investigação para saber se houve fraude nos registros do ex-presidente.
“Se há anotações no cartão de vacina dele, do DataSUS, de que ele se vacinou e se houver uma inserção indevida de anotações sobre a vacina dele, seja no sentido de colocar informações de que ele se vacinou ou de retirar informações relativas à sua vacinação, nossa expectativa é que, com a apuração, a gente descubra se isso aconteceu”, destacou o chefe da CGU.
Bolsonaro esperneia
Conforme a CNN, após a divulgação do registro de vacinação, Bolsonaro reafirmou a aliados que não tomou a vacina contra a covid-19. Em tom exaltado, disse que está disposto a fazer exames laboratoriais que comprovem que ele não tomou o imunizante. Para ele, trata-se de uma estratégia do atual governo do para condená-lo por “genocídio”, alegando que teria se vacinado, enquanto desestimulava a população a fazer o mesmo.
“Acho que em algum momento, ele vai ser condenado em alguma Corte internacional por conta do genocídio da covid, porque metade das pessoas que morreram é por conta da irresponsabilidade do governo”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na semana passada, à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, durante visita a Washington, nos Estados Unidos.
Negacionismo e hipocrisia de Bolsonaro sobre a vacina
Ainda em janeiro de 2021, quando se iniciava a aplicação das vacinas contra a covid-19 no Brasil, Bolsonaro impôs 100 anos de sigilo sobre o seu próprio cartão de vacinação. No mesmo dia em que teria tomado a vacina da Janssen, em entrevista à TV Brasil, ele voltou a contestar a eficácia dos imunizantes, sugerindo o chamado “tratamento precoce” ou “preventivo”, com drogas comprovadamente ineficazes. Nesta mesma semana, o Brasil registrou oficialmente mais de 15 mil mortos pela doença.
“Se você fala qualquer coisa que estaria dando certo em outro país qualquer, rapidamente você é satanizado. Devemos focar apenas na vacina? Não. Vacina, sim. Mas não apenas a vacina”, disse o então presidente. “Afinal de contas, a vacina tem dado mostras – em algum lugar do mundo, o tipo de vacina – que ela não te protege”, acrescentou.
No mesmo dia 19/07/21 onde temos o suposto registro de vacinação de Jair Bolsonaro com a vacina da Janssen, ele estava mais uma vez falando CONTRA as vacinas. Esse é o nível da canalhice! pic.twitter.com/ULrXzB10GM
— Desmentindo Bolsonaro (@desmentindobozo) February 17, 2023
De fato, as vacinas contra a covid-19 não conseguem evitar a contaminação. Mas foram eficazes em reduizir a gravidade da doença, reduzindo os números de internação e de óbitos. As doses de reforço também contribuem para quadros mais leves da doença, o que reduz o risco de transmissão.
Fake news ambulante
Pelas redes sociais, parlamentares repercutiram a notícia do registro de vacinação de Bolsonaro. Para a deputada Erika Kokay (PT-DF), se confirmado que o ex-presidente se vacinou, reafirma a sua condição de “fake news” ambulante. Talíria Petrone (Psol-RJ), também falou em “farsa” e “crueldade”. Maria do Rosário (PT-RS) também chamou Bolsonaro de “mentiroso” e “covarde”.
A notícia de que Bolsonaro tomou vacina enquanto desestimulava toda a população a se vacinar é gravíssima. Se for confirmada, reafirma seu requinte de crueldade genocida e sua condição de fake news ambulante!
— Erika Kokay (@erikakokay) February 18, 2023
Bolsonaro é uma farsa! A quebra do sigilo do seu cartão de vacina mostra que ele se vacinou contra a Covid. Mas sua crueldade é tamanha, que ele optou por mentir incentivando seus apoiadores a não tomarem o imunizante. Só tem um nome pra isso: genocida!
#Equipe— Talíria Petrone (@taliriapetrone) February 18, 2023
*Com RBA