Na presença de Haddad, três dos investidores mais influentes do mercado financeiro defenderam o aumento da meta de inflação, como quer o presidente.
De acordo com Álvaro Gribel, O Globo, ainda que de forma atabalhoada, o presidente Lula venceu o debate da meta de inflação. Em evento do banco BTG Pactual nesta manhã em São Paulo, e na presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, três dos investidores mais influentes do mercado financeiro concordaram que o aumento da meta é necessário, o que certamente terá efeito sobre a pauta do Conselho Monetário Nacional (CMN). Se não na reunião de quinta-feira, no encontro de junho, quando tradicionalmente as metas são definidas.
Rogério Xavier, da SPX Capital, foi quem fez a defesa mais incisiva do aumento da meta. E foi seguido por Luis Stulhberger, do Fundo Verde, e André Jakurski, da JGP. Trata-se das três maiores gestoras do país, com mais de R$ 100 bilhões em ativos sob carteira. Segundo Xavier, a redução das metas de inflação foi definida antes dos choques inflacionários da pandemia e da guerra da Ucrânia, que mudaram completamente o cenário. Por isso, diz, não faz sentido que o Banco Central pratique juros reais elevadíssimos para buscar uma meta de inflação de 3% no ano que vem.
– Agora que a gente passou por todas as situações inflacionárias nos últimos anos, com choques de covid, guerra, descarbonização, energia limpa, (desorganização) das cadeias produtivas, o Brasil resolveu fazer 3% de meta de inflação? A meta de inflação, só olhando para ela, que foi acertada há dois anos, está errada – afirmou.
Para Stulhberger, a meta é irrealista, embora ele admita que a visão de mudar a meta não seja consenso no mercado.
– Concordo 100% com o Rogério. A discussão da meta é cabível e não é o fim do mundo. E não implica em perda de credibilidade. Buscar uma meta irrealista não é uma coisa para o Brasil, no momento que a gente está. Mas precisamos de um arcabouço fiscal crível.
Jakurski também afirmou que a meta está errada:
– Concordo com o Rogério e com o Luis, a meta está errada. Não dá para perseguir essa meta. Acho simplesmente que os juros reais no Brasil são impressionantemente altos e o país não vai dar certo com esses juros.
Desde a entrevista que concedeu à jornalista Natuza Nery, da Globonews, Lula vem defendendo o aumento das metas de inflação. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no entanto, vem alegando que a mudança teria o efeito contrário ao esperado, com piora das expectativas, o que dificultaria do corte de juros.
Na visão de Rogério Xavier, esse argumento não justifica uma meta de inflação que não pode ser atingida nos próximos anos:
– Se as expectativas de inflação de 2024, 2025 e 2026 forem para 4%, então aí os juros não caem? Isso é uma loucura. Tem que fazer a trajetória ser cadente, mas com metas alcançáveis. O custo para a sociedade é imenso, seja financeiro, seja social e político.
Os três investidores também foram enfáticos em defender que o governo precisa apresentar rapidamente o novo arcabouço fiscal. Coube a Xavier dar também o recado mais claro a Haddad sobre a importância desse tema.
– Ninguém tem coragem de chegar ao ministro Haddad e falar: ministro, o problema da meta de inflação é que as pessoas não têm confiança na execução que o senhor está propondo. Mas façam o argumento correto. Falem para o ministro que o pacote que ele fez não é o que a gente acredita que vai entregar uma meta fiscal de superávit primário perto de zero. Mas falem que esse é o motivo, não a meta de inflação – afirmou.
A decisão da meta de inflação é feita pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é composto pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, do Planejamento, Simone Tebet, e o presidente do Banco Central, Campos Neto. Além de propor a mudança, Lula precisaria convencer Tebet, que tem dado sinais de ser contrária a uma mudança na meta.