Para deputada estadual de São Paulo, manifestação é sinal de que “pessoas que não querem conviver com a divergência”.
A deputada estadual Janaína Paschoal (PRTB-SP), cujo mandato termina em março, demonstrou interesse em voltar às salas de aula da Universidade de São Paulo (USP), em que é professora concursada. Mas os alunos da Faculdade de Direito “estão perturbados” com a notícia e promoveram um abaixo-assinado para impedir a volta da advogada e professora.
Nesta segunda-feira (6), o Centro Acadêmico XI de Agosto, representação política dos estudantes do Largo São Francisco, divulgou uma carta para ressaltar que a professora não é mais bem-vinda por ter “sangue nas mãos”, além de uma “contribuição indecente para o país” nos últimos quatro anos.
Segundo o corpo discente, Janaína “abandonou os valores democráticos que devem permear as salas de aula da principal instituição de ensino jurídico do país”. “Exemplo notório desse desvio é ter sido uma das poucas docentes que não assinou a ‘Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito’, documento histórico escrito pela Faculdade de Direito, que congregou o Brasil em defesa da democracia”, diz o documento.
A carta também critica a contribuição da advogada no processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT) e diz que, por todos os pontos listados pelos alunos, as salas de aula da USP se tornaram grandes demais para ela.
Afirmação pitoresca
Ao Estadão, Janaína criticou o abaixo-assinado e as alegações dos alunos, classificando-as como “pitorescas”. A deputada estadual acredita que a manifestação é uma mostra de que “pessoas não querem conviver com a divergência” e duvida da capacidade intelectual do corpo discente ao afirmar que, por serem jovens, “eles repetem o que falam para eles”.
A parlamentar também vê com bons olhos a perhttps://jornalggn.com.br/noticia/janaina-paschoal-acena-com-disputa-pelo-senado-em-2022/turbação dos alunos, pois “a missão de um bom professor é fazer com que os alunos saiam da zona de conforto” e também que sua volta ao mundo acadêmico “não é uma questão de escolha” por ser concursada. “Se não voltar, caracteriza abandono de função”, finalizou.
Confira a íntegra da carta do C.A. XI de Agosto
“O retorno de Janaína Paschoal às atividades de docência na Faculdade de Direito da USP é uma notícia recebida com perturbação pelo corpo discente do Largo de São Francisco e pelo Centro Acadêmico XI de Agosto.
Desde que se tornou uma das lideranças e a principal fiadora jurídica da extrema-direita, Janaína abandonou os valores democráticos que devem permear as salas de aula da principal instituição de ensino jurídico do país.
Exemplo notório desse desvio é ter sido uma das poucas docentes que não assinou a ‘Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito’, documento histórico escrito pela Faculdade de Direito, que congregou o Brasil em defesa da democracia.
Consideramos que Janaína Paschoal tem dado uma contribuição indecente para o país. Foi a responsável por fundamentar juridicamente o processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff e, em 2018, apoiou e surfou a onda bolsonarista para alcançar um mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Nos quatro anos sombrios que o país enfrentou sob o governo de Bolsonaro, Janaína se apresentou como uma espécie de bolsonarista esclarecida. No entanto, as suas supostas divergências com os movimentos de extrema-direita são mínimas e consideramos haver, em suas mãos, tanto sangue quanto nas mãos deles.
Felizmente, a população de São Paulo a negou um mandato no Senado. Por outro lado, a sua derrota na política possibilita um retorno às arcadas. É por isso que, antes que pise novamente no Território Livre do Largo de São Francisco, queremos que saiba que não é mais bem-vinda.
Hoje a Faculdade de Direito da USP é dos alunos negros e pobres. Hoje a universidade pertence aos defensores da democracia, não aos seus detratores. É exatamente por isso que você não cabe mais aqui. As nossas salas de aula se tornaram grandes demais para você.”
*Com GGN