Novas declarações de Walter Delgatti dão detalhes sobre a tentativa frustrada de golpe de Estado por Bolsonaro.
O hacker Walter Delgatti, conhecido por revelar as conversas de Telegram da Lava Jato, admitiu a tentativa de grampo contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
Delgatti afirmou que trabalha gerindo as redes sociais da deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP), mediante ao salário mensal de R$ 6 mil, que estaria atrasado.
As novas declarações, dadas ao The Brazilian Report, fornecem ainda detalhes sobre a tentativa frustrada de golpe de Estado, que teria sido orquestrada por Jair Bolsonaro (PL), com objetivo de impedir a posse do presidente Lula (PT).
O encontro
Delgatti se encontrou com Bolsonaro em agosto passado, por meio da mediação de Zambelli. Segundo a Veja, nesta ocasião, o então presidente da República teria convidado o hacker para assumir o grampo contra Moraes.
À época, no entanto, Zambelli afirmou à impressa que no encontro foi abordada somente a possível vulnerabilidade da segurança das urnas eletrônicas, a tese preferida de Bolsonaro.
Porém, após o encontro – em que Bolsonaro teria prometido que o hacker “teria o céu” mediante o sucesso do grampo – Delgatti procurou pessoas da área de tecnologia que pudessem ajudar na tal “missão”.
Uma fonte anônima entregou ao The Brazilian Report áudios que mostram Delgatti negociando serviços para clonar o chip de celular usado por Moraes, na busca de informações comprometedoras sobre ele.
Pelo serviço de clonagem, Delgatti prometeu o pagamento de 10 mil reais por meio de Bitcoin. Segundo ele, haveria “um pessoal pagando por trás”.
O próprio Delgatti confirmou à reportagem a veracidade dos áudios. “Então a matéria é essa: o Walter Delgatti encomendando um hack contra o Alexandre de Moraes”, disse a repórter Amanda Audi a ele em uma ligação gravada. “Perfeito, é a verdade”, respondeu o hacker.
Trabalho para Zambelli
Desempregado, enfrentando problemas na Justiça e com rancor da esquerda após a Vaza Jato, após o tal fatídico encontro com Bolsonaro, o hacker ainda teria pedido um emprego a Zambelli – que, de imediato, passou para ele a tarefa de gerir seu site e redes sociais.
“[Ela tinha] contrato com uma empresa que fazia isso já, o contrato encerrou e ela fez comigo porque eu consegui diminuir o que ela pagava. Mas ela paga com o dinheiro dela. Inclusive está atrasado este mês”, afirmou Delgatti à reportagem.
Segundo ele, o salário é de 6 mil reais mensais. “[Trabalho] desde aquela época [agosto]. Porque saiu na mídia aquilo [encontro com Bolsonaro] e o pessoal da esquerda que me ajudava parou de ajudar. Aí eu falei ‘ô Carla, me ajude aí, me dê um emprego’. E ela falou ‘beleza, tenho um contrato aqui com um pessoal que cuida do site, das redes sociais, tudo, que vai encerrar. Se você cobrir o valor, eu te contrato’. E eu presto serviço pra ela certinho, tem tudo detalhado”.
Delgatti abriu uma empresa para prestar o serviço 12 dias depois do encontro com Bolsonaro e Zambelli. A empresa, no entanto, não consta na prestação de contas da deputada, que informou que Delgatti nunca trabalhou para ela.
Contudo, após ser informada de que o próprio hacker havia sido gravado falando sobre o suposto contrato, Zambelli apenas afirmou: “Eu não tenho qualquer relação com Walter no que tange grampear o Moraes”, escreveu em resposta à reportagem.
Às voltas com a Justiça por causa da Vaza Jato, Delgatti estava proibido de acessar a internet quando pediu trabalho à Carla Zambelli.
Coincidência?
Questionado se havia uma relação entre a tentativa de hackeamento e a ligação com Zambelli, Delgatti disse que o grampo seria iniciativa dele próprio, apesar de, nos áudios, ter citado “um pessoal” que iria “pagar por trás”.
*Com GGN