Manda quem pode, obedece quem tem juízo e preza o emprego.
Dê-se um desconto: tem ministro que sequer tomou posse. É o caso de Simone Tebet (MDB-MS), do Planejamento, que hoje tomará posse. Só ontem foram empossados mais dois: Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil) e Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).
Dê-se outro desconto: em um governo centralizador como foi o passado, só o presidente falava, e na maioria das vezes dizia besteiras. Ou então alguém designado por ele. Paulo Guedes, da Economia, sentia-se à vontade para falar e muitas vezes dizia besteiras. Era um desses apaixonados pela própria voz.
Bolsonaro tinha predileção em atravessar a rua para ir pisar numa casca de banana. Ninguém está a salvo de pisar numa casca de banana que não viu à sua frente; mas avistar uma do outro lado da rua e pisá-la é queda certa. Deve ser coisa de quem foi treinado para pôr a vida em risco com o paraquedas semifechado.
Silêncio combina com ditadura. O barulho é próprio da democracia, assim como a exposição de divergências, o debate acalorado, a negociação arrastada, a busca de consensos sem os quais nada anda. A palavra é a única arma que se dispara. A bala é o voto. Com ele, ou não falta dele, ganha-se e perde-se batalhas.
Quem tem o dom da palavra como Lula não vai querer calar a voz de ninguém. Mas quem tem como ele a responsabilidade de governar sabe que o excesso de ruídos costuma fazer muito mal. É por isso que reunirá amanhã pela primeira vez seus 37 ministros para adverti-los: vamos governar mais e falar só o necessário.
Nada de falar pelo governo quando o que se diz não foi autorizado por quem é dono da palavra final. O bate cabeça provoca insegurança pública e causa prejuízo. E passa a impressão de que o barco está à deriva. Talvez Lula renove a advertência que fez em 2002 depois de eleito: aqui, somente eu e o vice fomos votados.
Noblat/Metrópoles