A própria direita se açoita com as listas de possíveis culpados pelo fracasso do blefe que Bolsonaro trouxe até aqui, durante dois anos, na tentativa de criar um ambiente pró-golpe.
Os militares aparecem nas listas mais recentes dos que teriam abandonado o derrotado, bem na hora em que ele mais precisava da imposição dos fardados.
Já apareceram os empresários com dinheiro, que mostraram a cara antes e logo depois da eleição, mas foram sumindo, com medo de Alexandre de Moraes.
Não os empresários médios, sem grife, mas os poderosos, que integravam valentes redes de tios de zap.
Incitaram os patriotas, defenderam a legalidade das afrontas e nunca frequentaram as aglomerações.
E são da primeira fila dos culpados os políticos do time de cima do fascismo. Esses reproduziram as falas de Bolsonaro, imitaram os grandes empresários, também ergueram a bandeira do golpe na falação, mas nunca foram à guerra presencial.
Podem ser acrescentados culpados das subdivisões do golpe, que deixaram os patriotas sozinhos.
Recuaram quando perceberam que Moraes estava prendendo. Faltava um comando nacional e Bolsonaro se revelava incapaz de inspirar confiança e ir em frente.
Um golpe é uma possibilidade com desdobramentos dramáticos em aberto. Na experiência mais recente, os peruanos viram que, depois do primeiro passo, ninguém sabe qual será a sequência da caminhada.
Mas o golpe de Bolsonaro nem deu o primeiro passo, porque não tinha uma voz forte capaz de orientá-lo.
Na Venezuela, Juan Guaidó é o líder golpista perpétuo da extrema direita. Na Bolívia, ninguém toma o lugar de Luis Fernando Camacho.
No Peru, o próprio Pedro Castillo ensaiou e liderou, mesmo que parte das esquerdas não admita, um golpe que poderia salvá-lo e o levou para a cadeia.
Todos correram e correm riscos. Ninguém no Brasil assumiu a liderança do golpe planejado por Bolsonaro, porque esperavam dele o gesto que não veio.
Bolsonaro não foi em frente porque não teve apoio, ou o apoio não existiu porque Bolsonaro se mostrou frouxo demais para avançar.
A clausura, a admissão da depressão profunda, o choro e as falas enviesadas mexeram com o humor dos acampados.
Mas o que mais abalou as bases foi o silêncio revelador de um perdedor sem forças.
Bolsonaro recolheu-se ao Alvorada para acompanhar o ambiente de longe, sem maiores riscos da sua presença no Palácio do Planalto. Pagou para ver de casa o que ninguém viu.
Os militares não poderiam sustentar o que não existia, mesmo alguns que tenham tentado transmitir fé aos acampamentos.
No roteiro de Bolsonaro, o ato derradeiro será a posse de Lula, onde tudo, na cabeça dele e de gente do entorno, pode acontecer.
O final é esse: Bolsonaro ficará marcado para sempre como o cara incapaz de dar forma à própria ideia. Será o blefador consumido pelo blefe.
Faltou um líder ao golpe porque Bolsonaro não era esse líder e o resto não queria bronca com um tenente vacilão.
O agora enclausurado foi apenas coadjuvante do próprio plano golpista, enquanto Alexandre de Moraes assumia o papel de protagonista como guardião da democracia.
É simples assim. Até Papai Noel sabe que, ao se recolher, Bolsonaro não merecia um golpe de presente, porque lhe faltou grandeza histórica como golpista.
*Publicado originalmente no “Blog do Moisés Mendes”